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Atualizado às 15h30

A definição mais comum diz que o jornalista é um especialista em generalidades. Ou, como dizia Otto Lara Resende, "é aquele sujeito que sabe um pouco de vários assuntos – e não sabe de nada". Ruy Castro, que começou a carreira como jornalista, aos poucos foi se especializando em algo mais do que generalidades. Gosta de artes, do Rio de Janeiro e do século em que nasceu. Passou a pesquisar mais a fundo e hoje, 16 anos depois da publicação de seu primeiro livro, tornou-se algo entre um repórter e um historiador. Menos superficial do que o primeiro, menos profundo do que o segundo. Uma espécie de cronista oficial de seu tempo.

Nesta quarta-feira (8), Castro vem a Curitiba para inaugurar a temporada de 2006 do programa "Sempre um Papo", do Teatro da Caixa. O escritor vem, desta vez, como biógrafo de Carmen Miranda – de acordo com ele, a brasileira mais famosa do século 20 e a mulher mais imitada de todos os tempos. "Carmen", a biografia da cantora, foi lançada no fim do ano passado. Em pouco mais de três meses, já vendeu quase toda a tiragem de 40 mil exemplares feita pela Companhia das Letras. Sinal de que a fórmula descoberta nos livros anteriores, sobre Nélson Rodrigues e Garrincha, continua rendendo frutos entre os leitores.

A pesquisa sobre a cantora tomou cinco anos de trabalho. Mas, na verdade, o escritor diz que esse tipo de trabalho começa a ser feito de um jeito que nem ele mesmo é capaz de definir. "Isso já estava fermentando em mim há algum tempo", conta ele, fã confesso de Carmen Miranda. No livro, ele diz que fez questão de ressaltar a imagem da artista competente que conquistou o país com suas interpretações, e não só o ícone de turbantes exóticos e gestos sensuais. "Temos de ser gratos aos gays, que ajudaram a manter Carmen Miranda viva no imaginário por todo esse tempo. Mas é preciso que ela seja incorporada também ao universo heterossexual", opina o autor.

A palestra com lançamento de livro e autógrafos que acontece nesta semana em Curitiba vem se repetindo por todo o Brasil. Desde que lançou o livro, Ruy Castro já fez eventos semelhantes – ou vai fazer nos próximos dias – em São Paulo, Brasília, Londrina e até em cidades bem mais distantes de seu Rio de Janeiro, como Manaus e Rio Branco. Outra prova do interesse que o livro vem despertando foi a rapidez com que a Rede Globo confirmou a compra dos direitos autorais para a realização de uma minissérie sobre a cantora. Ruy Castro diz que Carmen era também uma artista de Hollywood e que acha provável a venda dos direitos para o cinema norte-americano, embora não haja nada acertado por enquanto.

Sem nostalgia

As três biografias a que Ruy Castro se dedicou têm alguns pontos em comum. Nélson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda dividiram mais ou menos o mesmo chão e o mesmo período do século 20. Todos têm relação com o Rio de Janeiro dos anos 50, por exemplo. Apesar disso, o escritor diz que não se considera um nostálgico. "Me considero uma pessoa culta. Tenho interesse no século 20 assim como tenho no século 19", afirma.

Já o fato de todas as suas personagens terem tido vidas com momentos trágicos é um pouco mais do que uma simples coincidência, admite. "São dois fatores que me levam a querer fazer a biografia de alguém", conta. O primeiro é a admiração pela obra do biografado. O segundo é uma curiosidade pelo tipo de vida que ele teve e pela relação que os eventos mais importantes de sua história possam ter tido sobre o seu trabalho. "Acredito que vidas tumultuadas acabam despertando mais curiosidade, mais interesse", comenta.

Por enquanto, Ruy Castro afirma que não tem nenhum novo livro biográfico em vista. Mas adianta que, se vier a fazer mais uma incursão no gênero, provavelmente será de um artista, novamente. "Não sou uma pessoa exatamente ligada a política", conta ele. A biografia de Carlos Lacerda, governador da Guanabara e inimigo político de Getúlio Vargas no Rio dos anos 50, interessaria. "Mas seria preciso muito tempo para fazer, Não sei se tenho fôlego para isso", finaliza.

Serviço:

"Sempre Um Papo". Quarta-feira (8) a partir das 19h30. Teatro da Caixa (R. Conselheiro Laurindo, 280), (41) 3321-1999. Palestra e sessão de autógrafos com o escritor e jornalista Ruy Castro. Entrada Franca.

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