Admirada em sua maioria por leitores jovens, tidos como menos experientes em matéria de literatura, a obra de Bukowski por vezes é relegada a uma categoria menor, de escritores de segundo time, em que ele seria algo como o reserva de John Fante ou Ernest Hemingway.
Grande equívoco. O caráter autobiográfico e despudorado de sua escrita, apesar de ser o ponto de identificação mais forte entre seus leitores, está longe de ser o principal atrativo ou mesmo a força-motriz de seu trabalho. "O forte caráter autobiográfico que pode, com certeza, ser encontrado ao longo de toda obra é somente meio e nunca fim", esclarece o tradutor Pedro Gonzaga, no capítulo de apresentação de Misto-Quente (1982), quarto romance do escritor.
Fã e leitor de Bukowski desde os anos 80, quando seus livros começaram a ser publicados no Brasil, o dramaturgo londrinense Mário Bortolotto concorda que os aspectos mais folclóricos das narrativas do escritor, como o sexo e a bebedeira, não se sobrepõem a seu talento para contar histórias. "O que me chamou atenção foi a qualidade da escrita dele. Em como ele conversava com o leitor o tempo inteiro, quase como se estivesse sentado do nosso lado, tomando uma cerveja num boteco. E repito: com uma imensa qualidade", lembra Bortolotto, ao relatar como foi seu primeiro contato com a literatura bukowskiana, o livro Cartas na Rua (1971), estreia do autor na prosa.
Bortolotto compartilha com o poeta curitibano Luiz Felipe Leprevost a preferência pelo romance Mulheres (1978). "É um puta livro, no qual o personagem Henry Chinaski é totalmente desnudado perante o leitor com todas suas fraquezas, idiossincrasias e emocionante escrotidão", e não hesita em apontar Bukowski como uma de suas maiores influências literárias, ao lado de Jack Kerouac e do brasileiro Reinaldo Moraes. "Creio que devo muito do meu trabalho à influência que sofri dele. Peças minhas dos anos 80, como Leila Baby e Vamos Sair da Chuva Quando a Bomba Cair são completamente e saudavelmente contaminadas pelo vírus Bukowski", revela.
Em verso
Embora muitos críticos considerem sua temática ofensiva, na poesia a importância de Bukowski não é menos reconhecida seus poemas foram elogiados publicamente pelos escritores franceses Jean-Paul Sartre e Jean Genet. Com mais de 30 livros de poemas publicados apenas três coletâneas de traduções foram lançadas no Brasil , Bukowski é considerado um grande divisor de águas na poesia de língua inglesa do século 20, depois de Ezra Pound (18851972), T.S. Eliot (18881965) e W. H. Auden (19071973). "Ele substituiu a dicção formal e sofisticada dos tempos de Pound-Eliot-Auden por uma linguagem destituída de afetações e maneirismos, que tomou conta do verso acadêmico e lotou as universidades e publicações com imitações de imitações de Pound e seus pares. O que Wordsworth disse ter em mente, o que William Carlos Williams alega ter feito e o que Rimbaud de fato fez em francês, Bukowski cumpriu em língua inglesa", analisa o escritor e crítico de poesia John William Corrington, na introdução de It Catches My Heart in Its Hands (1963), terceiro livro de poesias de Bukowski.
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