Xingu é a produção mais recente do diretor paulista, que ganhou destaque em 2007 com O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias| Foto: Divulgação

Morte

Participação africana impressiona com 2 longas

Agência Estado

Com elementos de dois filmes vencedores do Urso de Ouro, um concorrente canadense/africano arrisca-se a ser considerado déjà vu pelo júri presidido por Mike Leigh e sair da Berlinale sem prêmio algum. Se isso ocorrer, será uma tremenda injustiça para War Witch e seu diretor, Kim Nguyen. O filme conta a história de uma menina que é sequestrada por rebeldes na África e vira soldada de uma guerra que não é dela. De cara, ela é forçada a matar os pais. Mais tarde, para sobreviver, introduz uma batata na vagina, como a protagonista de La Teta Asustada, de Claudia Llosa. E espera um filho, resultado do estupro por seu comandante.

Isso não impede o cineasta nascido em Montreal e radicado em Quebec de fazer um filme de um frescor muito grande, e original. Com atores maravilhosos, War Witch alterna cenas de um realismo brutal com outras oníricas. A menina tem visões de fantasmas na selva, entre eles os pais, que não foram enterrados. O filme narra o trajeto de Komona, seu nome, voltando à aldeia para cumprir o ritual fúnebre. Ela se envolve com um menino-soldado albino, e ele a leva para conhecer sua comunidade, no interior da África. Quando o filme começa, ela conta sua história para o bebê que carrega no ventre. E reza aos ancestrais para não odiar nem matar a criança, ligada a tanta dor e sofrimento.

O outro filme africano (ainda que o de Nguyen conte como canadense) é Aujourd’hui, de Alain Gomis, do Senegal. Ele também trabalha o tema da morte, por meio de um homem que volta para casa para morrer.

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Xingu, de Cao Hamburger, integra a Mostra Panorama Principal, a paralela mais importante do Festival de Berlim. O diretor paulista está de volta ao evento no qual em 2007 concorreu ao Urso de Ouro com O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias. Seu novo filme é sobre a trajetória dos irmãos Villas-Bôas, pioneiros na proteção dos índios no Brasil. Passado na década de 1940, segue Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas (interpretados por Felipe Camargo, João Miguel e Caio Blat, respectivamente) que se juntaram às expedições organizadas pelo governo brasileiro para desbravar o interior do país. Acabaram tendo suas vidas transformadas pelo contato com tribos indígenas e foram protagonistas na criação do Parque Nacional do Xingu.

Produzido pela O2 de Fernando Meirelles e com o ótimo roteiro de Elena Soarez, a produção tem estréia prevista para 6 de abril no mercado nacional. Xingu não concorre aos Ursos de Ouro e Prata, mas compete pelos prêmios de audiência, da crítica internacional (Fipresci) e da Confederação Internacional de Cinemas de Arte.

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"Eu tenho uma relação pessoal com a cidade, meu pai e meu avô nasceram aqui. Este é o lugar certo para Xingu", disse o cineasta. "Na vez anterior que Cao veio aqui, eu estava no filme e fiquei muito triste de não ter podido vir, felizmente foi possível agora", ressaltou Blat, que em 2010 também esteve na Berlinale com Bróder, de Jeferson De.

João Miguel disse esperar que a história real ecoe além do filme, que toca numa vertente de entendimento do Brasil e foi praticamente riscada da nossa história. "Depois de ter feito Xingu, nunca mais fui o mesmo", revelou. Hamburger conversou com a Gazeta do Povo sobre o filme, a seleção para Berlim e seu próximo trabalho.

Em que momento surgiu o projeto de filmar Xingu?

Nunca havia me aprofundado muito no universo dos índios brasileiros, tampouco na vida dos irmãos Villas-Bôas, mas assim que tive os primeiros contatos, fiquei totalmente tomado pela riqueza da história. A vida deles é incrível, bela, dramática, emocionante e cheia de aventura.

O que foi mais gratificante na realização do filme?

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A cultura e filosofia dos povos que os Villas-Bôas encontraram, e que estava por aqui antes de Cabral, os encantaram tanto que sua sobrevivência passou a ser a causa da vida deles. Para mim, conhecer um pouco dessa história foi um verdadeiro presente.

É fato que alguns índios participaram não só como atores, mas também da produção?

O projeto começou dois anos antes das filmagens e muito do roteiro foi feito a partir de conversas com os povos indígenas. Queríamos que o filme tivesse também o ponto de vista deles. Alguns já tinham tido contato com o mundo audiovisual e nós aproveitamos para fazer esse intercâmbio.

Qual sua expectativa de retorno com essa a exibição na Mostra Panorama da Berlinale?

A melhor possível. Berlim é um ótimo começo para a carreira do filme, tanto no exterior quanto para o mercado brasileiro. Isso aqui é a elite do cinema mundial, não poderia estar em melhor vitrine. E eu espero que eles se emocionem tanto quanto as pessoas que já viram o filme no Brasil.

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O filme já tem distribuição assegurada?

No momento, o foco é tentar levar o filme para outros festivais. Queremos participar de eventos nos Estados Unidos, provavelmente iremos à TriBeCa. Em Berlim, além da sessão na Panorama, estamos no Mercado Europeu de Cinema (evento de negócios que ocorre dentro do festival). Xingu tem estreia nacional prevista para abril, mas esperamos distribuir o filme em vários países.

Seu novo projeto também tem ligação com o tema de Xingu?

Sim, de certa forma. Estou trabalhando no roteiro de Isolados, em parceria com a documentarista Maíra Buehler. É um filme de ficção que aborda a questão dos grupos indígenas brasileiros que permanecem em isolamento ainda nos dias de hoje. Por sinal, o festival de Berlim também vai ser uma oportunidade de sentir como o tema é recebido fora do Brasil.