"A meia-entrada é uma agressão". As palavras são de Luiz Gonzaga De Luca, executivo da Kinoplex e vice-presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Feneec), que quer limitar a venda de ingressos com o desconto a 30% do total de cada sessão. "O Estado não exige que as lanchonetes vendam sanduíches por metade do preço a estudantes. Por que exigir isso das salas de cinema?", pergunta De Luca, lembrando sua posição de exibidor: "Somos comerciantes como quaisquer outros."

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Em reportagem publicada na semana passada pelo G1, De Luca havia reconhecido que os preços altos dos ingressos prejudicam o próprio setor, e explicado que, além de ajustarem os preços por causa da alta freqüência de pessoas que pagam meia-entrada, algumas salas cobram ingressos mais caros porque oferecem serviços luxuosos.

Nesta sexta-feira, ele revelou à reportagem que os empresários do setor pretendem levar ao governo um pedido de reavaliação das leis municipais e estaduais que instituem a meia-entrada. A notícia vem depois de a Feneec lançar uma campanha nacional contra o uso de carteiras de estudante fraudulentas. Agora, a federação passa a defender a limitação de assentos a serem ocupados por estudantes nas salas.

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Para o presidente da União dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, a limitação desse benefício prejudicaria muitos estudantes, que "realmente só têm acesso à programação cultural porque pagam meia". Petta acrescenta: "Isso também teria um impacto econômico negativo para as salas de cinema, que perderiam muito público, afinal, os jovens são responsáveis pela maior fatia da platéia que vai ao cinema".

Mas esse impacto não parece preocupar o vice-presidente da Feneec. "Se meu principal público tem entre 12 e 29 anos, ele vai continuar a ter; isso não muda", diz.

O presidente da UNE acredita que a meia-entrada para estudantes deve ser respeitada, pois tem "um papel importantíssimo na educação e na formação de público para o futuro".

"Discordo dessa idéia", diz De Luca. "Não existe formação de público nenhuma; o benefício da meia-entrada é imediato. Estamos falando de 'Homem-Aranha', de 'Senhor dos anéis'. Cinema hoje é lazer, não cultura."

Além da limitação dos ingressos com o desconto, eles propõem que o benefício seja bancado pelo Estado por meio de subsídios para exibidores. "Já que o Estado considera a ida ao cinema como uma atividade cultural básica para a população, ele tem que pagar; os políticos têm de entender isso", diz o executivo.

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De Luca aponta a meia-entrada como a principal causa dos altos preços de ingressos, que nos fins de semana podem chegar a R$ 21 na região metropolitana de São Paulo. "A meia-entrada cria preços fictícios; logo, temos de aumentar o valor da inteira para compensar a meia", explica o executivo da Kinoplex.

Entretanto, a receita das salas de cinema não se limita aos ingressos pagos pelo público, também conta com a venda de alimentos (pipoca, refrigerante etc.) e o uso das telas para propagandas, que cresceu nos últimos anos com a disseminação da tecnologia digital. Estima-se que a publicidade em cinema movimente cerca de R$ 45 milhões por ano no Brasil. "De fato, quem acaba pagando a conta é o consumidor", afirma De Luca.

Contra as carteirinhas irregulares

Atualmente, a Feneec está em campanha nacional contra as carteirinhas irregulares de estudantes nos cinemas. A idéia é que os estudantes que usarem carteirinhas emitidas por entidades estudantis em convênio ou por empresas privadas terão de apresentar outros documentos – tais como boleto de pagamento ou comprovante de matrícula – da instituição de ensino para obter a meia-entrada.

"A emissão de documentos de estudante virou uma fonte de lucro para muitas empresas", diz o vice-presidente da federação. "As pessoas esquecem que a falsificação é um delito". A campanha conta com o apoio da UNE.

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Desde a publicação da Medida Provisória 2.208, de 2001, a emissão de documento de identificação de estudantes não é mais restrita à UNE e pode ser feita pelos próprios estabelecimentos de ensino ou por quaisquer associações estudantis.