O compositor e zoólogo Paulo Vanzolini morreu no último domingo, 28, aos 89 anos, vítima de complicações decorrentes de uma pneumonia. Ele estava internado desde a noite da última quinta-feira seu aniversário na UTI do hospital Albert Einstein, em São Paulo. Deixou mulher, a cantora Ana Bernardo, e cinco filhos do primeiro casamento.
O velório, reservado a familiares e amigos, foi realizado na manhã de ontem, no Einstein. O enterro ocorreu à tarde, no cemitério da Consolação.
Um dos ícones do samba paulistano, o músico criou clássicos como "Ronda", "Volta por Cima" e "Praça Clóvis", interpretados por grandes nomes da MPB, como Chico Buarque, Maria Bethânia e Paulinho da Viola. No mês de março, recebeu o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) pelo conjunto da obra.
Compositor bissexto, de músicas que chegavam a demorar um ano a ficar prontas, Vanzolini não tocava nenhum instrumento e tinha, assumidamente, um "grande problema com a afinação" (como disse em entrevista ao Jornal do Brasil, em 1970), mas se firmou como um grande compositor de samba.
Compunha nas horas vagas do trabalho como zoólogo de renome internacional especializado em répteis. Com doutorado em Harvard, Vanzolini foi por três décadas diretor do Museu de Zoologia da USP, onde trabalhou por mais de 50 anos.
"Não tenho carreira de compositor. Música, para mim, é um hobby. Trabalho 15 horas por dia como zoólogo, adoro minha profissão. Não sei cantar, nem sei a diferença entre o tom maior e o menor", disse, em 1997, em entrevista à Folha de S.Paulo.
"Ronda"
A primeira composição, "Ronda", é de 1951. A canção seria gravada só dois anos depois, em 1953, no lado B de um LP de Inezita Barroso, de quem era amigo.
A música ficaria famosa na voz de Marcia, nos anos 1960, e ganharia o país graças também a intérpretes como Bethânia (que a incluiu, em 1978, no LP Álibi), Carmen Costa, Angela Maria e Nora Ney.
Em 1963, foi a vez de o cantor Noite Ilustrada lançar a segunda composição de Vanzolini a ser gravada, "Volta por Cima". A gravação, além de se tornar conhecida no país inteiro, foi incluída no filme O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969), que renderia a Glauber Rocha o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes. A música faria sucesso também na voz de Jair Rodrigues.
Só em 1967, mais de 20 anos depois de começar a compor, Vanzolini teria um disco inteiro gravado com suas canções. Produzido por seus amigos Luís Carlos Paraná (dono do lendário bar Jogral) e Marcus Pereira, 11 Sambas e uma Capoeira teve músicas interpretadas por nomes como Chico Buarque ("Praça Clóvis" e "Samba Erudito"), Cristina Buarque ("Chorava no Meio da Rua") e o próprio Paraná ("Capoeira do Arnaldo"). Anos depois, esse seria considerado pelo compositor como seu único disco "que presta".
Nos últimos anos, Vanzolini já não compunha, apesar de ainda participar de shows, nem trabalhava no museu, embora colhesse os frutos de seu esforço em 2012, ganhou R$ 300 mil da Fundação Conrado Wessel por sua produção científica.
Em 2004, foi internado no Hospital Sírio Libanês, com problemas cardíacos. Mas o maior representante da boemia paulistana nunca dispensou sua cervejinha. Até os últimos dias, todo sábado, ele ia ao Bar do Alemão, na zona oeste da capital, ouvir sua atual mulher, a cantora Ana Bernardo, e lá ficava até a madrugada chegar.
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