Quando se mudou para Curitiba, no início da década de 1990, o produtor cultural e jornalista carioca Rodrigo Browne sentia falta de, além do calor e do mar da Ipanema onde nasceu, ouvir no rádio os sambas que aprendeu a gostar desde criança.
Para ocupar a lacuna, Browne criou em 1996 o programa Samba de Bamba, exibido até hoje todos os domingos, às 11h, na rádio E- Paraná. Browne convida artistas ligados ao gênero para selecionar sambas e explicar os porquês das escolhas, falar sobre memórias e influências.
Há quatro anos, o projeto saiu do dial do rádio e ganhou corpo no palco do teatro da Caixa Cultural. Um espetáculo mensal recebe artistas promissores do gênero sempre na primeira terça-feira do mês. Nesta terça-feira (03), o cantor Marcelinho Moreira é o convidado. Outros sete nomes – entre eles herdeiros de clãs sambistas – estão escalados para o resto da temporada.
“A ideia é apresentar aqui alguns dos grandes nomes do samba que estão fazendo sucesso nas melhores rodas de samba do Brasil. Artistas que estão lotando as casas nas suas cidades de origem, mas que ainda não conseguiram mostrar seus trabalhos autorais”, explica.
O sucesso do projeto em Curitiba motivou convites de unidades da Caixa Cultural de outros estados 2016. Hoje, o Samba de Bamba também vai a Brasília e Pernambuco. Há expectativa de que se estenda a São Paulo em 2017.
A curadoria do projeto fez Browne se tornar um garimpeiro de novos talentos do samba. Se no rádio o programa recebe medalhões como Martinho da Vila e Zeca Pagodinho, no palco o recorte temporal privilegia a novíssima geração do samba surgida a partir da revitalização da Lapa, o bairro boêmio no centro do Rio de Janeiro no início do século 21. Antes considerado decadente e perigoso, a Lapa virou um ponto de criatividade da música brasileira em bares como o Dama da Noite, Carioca da Gema e outros, como o centro cultural Fundição Progresso.
Confraria
Browne comemora o fato de que os concertos de novos sambistas caíram no gosto do público da cidade. “Antes de fazer esse projeto de rádio eu também acreditava que o público consumidor do samba em Curitiba não era tão grande. Ao longo desses anos percebi que não é bem assim. A realidade tem me mostrado que existe aqui um público ávido para consumir a boa música brasileira”.
Como teatro da Caixa Cultural é pequeno (125 lugares), os ingressos são bastante disputados e costumam acabar na véspera. “Formou-se uma pequena confraria do pessoal que costuma esperar junto pelo ingresso e comparecer a todos os shows. Isso sinaliza positivamente que estamos no caminho certo.”
PROGRAMAÇÃO
03/05
Marcelinho Moreira (RJ)
Afilhado musical de Martinho da Vila, já esteve na cidade com Beth Carvalho e Arlindo Cruz. Volta para mostrar seu trabalho de compositor baseado em sambas de partido-alto.
07/06
Inácio Rios (RJ)
Filho do sambista Zé Catimba, tem apenas 31 anos, mas 22 de carreira pois canta profissionalmente desde os oito anos de idade.
05/07
Antonia Adnet (RJ)
A cantora e compositora é filha do músico Mário Adnet (e prima do humorista Marcelo Adnet). Foi violonista da banda de Roberta Sá e tem três álbuns autorais gravados.
02/08
Cris Pereira (DF)
Uma das principais sambistas de Brasília, é herdeira da tradição de cantoras que celebram a cultura negra e religiosidade afro-brasileira como Leci Brandão e Dona Ivonne Lara.
06/09
Marcos Ozzelin (SP)
O cantor iniciou sua carreira nos anos 90 na noite paulistana, morou em Portugal e desde o ano 2001 vive na cidade do Rio de Janeiro. Afilhado artístico da cantora Ithamara Koorax.
04/10
Julio Estrela (RJ)
Faz parte do grupo de artistas tanto do Bar Carioca da Gema quanto do Bar Semente, tradicional casa responsável pela revitalização da Lapa contemporânea.
01/11
Marina Íris (RJ)
Suas interpretações resgatam a tradição das grandes cantoras de samba. Filha do sambista Celso Lima e de Gisa Nogueira, é irmã do cantor e compositor João Nogueira.
06/12
Alex Ribeiro (RJ)
Filho cantor Roberto Ribeiro, de quem herdou a fisionomia e o timbre vocal, o cantor e compositor foi jogador profissional de futebol antes de se decidir pela carreira artística.
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