Atores-cantores fazem parte do espetáculo, idealizado por Gustavo Gasparani: teatro de revista é a base para contar as relações franco-brasileiras| Foto: Fotos: Divulgação

História

Saiba mais sobre o teatro de revista, gênero-base da montagem carioca

O Teatro de Revista surgiu em Paris, na França, no final do século 18, como revue de fin d’année (revista de fim de ano). O objetivo era relembrar e também criticar os acontecimentos mais marcantes do ano que acabava por meio de esquetes, música e declamações.

O gênero passou a adquirir tom humorístico e o alvo das piadas eram a sociedade burguesa da época.

Sua popularidade atingiu artistas de renome, como Charles Baudelaire, Van Gogh e Toulouse Lautrec.

No Brasil, chamado somente de "revista", o gênero se tornou notório com as produções das companhias de Walter Pinto e Carlos Machado.

O início da carreira de Carmen Miranda tem relação íntima com a revista, bem como as chamadas vedetes, dançarinas e cantoras que complementavam os espetáculos.

O ápice do gênero no Brasil se dá com as obras de Artur Azevedo, que a cada ano apresentava seus comentários sobre o ano anterior de forma crítica e bem-humorada.

CARREGANDO :)
Esquetes cômicos sobre a situação política também estão na montagem
Sambas da década de 1940 e 1950 que ganharam destaque na França e canções francesas eternizadas no Brasil serão relembrados

O que as composições românticas do francês Georges Bizet têm a ver com as reboladas de Gretchen? E Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro entre 1902 e 1906, com Eduardo Paes, atual mandatário da cidade? Na peça Oui, Oui... A França É Aqui! - A Revista do Ano, a relação histórica entre Brasil e França, com ênfase na influência cultural e política do país europeu sobre o sul-americano, é retratada com bom-humor e descontração. O espetáculo, escrito por Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche, está em sua sexta temporada e será apresentado hoje e amanhã no Teatro da Reitoria, como parte da Mostra Contemporânea.

Publicidade

A base histórica é o teatro de revista, gênero surgido na França no final do século 18. No Brasil, foi adaptado por Artur Azevedo, como explica Gustavo Gas­­pa­­rani, também ator da peça.

"Esse tipo de teatro contava em resenhas tudo o que havia acontecido durante um ano. Então nós brincamos. Pegamos essa estrutura, mas para fazer um apanhado não de um, mas de 500 anos. É uma brincadeira de estilo que se inspira no gênero francês, mas vai mais além", explica Gasparani.

O além: entremeando os esquetes cômicos – seis atores em cena interpretam uma média de dez personagens cada um –, números musicais quase transgressores também fazem parte da montagem. Três músicos que tocam seis instrumentos – "um sex­­teto de ouro" – brinca Gas­­parani, se encarregam, ao vivo, de criar um verdadeiro "samba do crioulo doido."

"Passeamos por todos os gêneros de canções francesas que fizeram sucesso por aqui e de brasileiras que se destacaram por lá", explica o ator.

Então as "trocas musicais" relembram, por exemplo os sambas da década de 1940 e 1950 sucessos na França (como os de Noel Rosa), "Hymne à L’amour", música interpretada por Edith Piaf eternizada no Brasil por Dalva de Oliveira, e até "Mamãe Eu Quero", marchinha de carnaval badalada na voz de Carmen Miranda, que ganhou uma versão francesa conhecida como "La Chupeta". "Ainda há outras brincadeiras, como por exemplo uma aula de samba ministrada em francês", conta Gasparani.

Publicidade

A vez da comédia

Este é o terceiro espetáculo musical de Gustavo Gasparani, também integrante da Cia. dos Atores. Em 2006, o carioca apresentou no Festival de Curitba a peça Otelo da Mangueira, tragédia de Sha­­keas­peare relida sob os batuques dos morros cariocas. No ano passado, Ele criou uma opereta – gênero também de origem francesa – que revisitou sambas quase esquecidos. A comédia chega agora, motivada pelo Ano da França no Brasil (2009), pela ascendência francesa do idealizador do espetáculo e pela real relação entre os dois países.

"São tantas coisas que envolvem a relação do Brasil com a França que decidi brincar com isso agora", explica Gasparani. Além dos números musicais, questões políticas e sociais também são retratadas. No início do século 20, o então prefeito do Rio, Pereira Passos, reformou a cidade inteira, pretendo criar uma verdadeira "Paris tropical". O Teatro Municipal da cidade foi inaugurado também nesta época.

"Nosso prefeito hoje tem um perfil parecido com o do Passos, que era considerado um ‘almofadinha’. O Paes é um menino da zona sul, uma espécie de playboy. O público deve identificar essa relação", diz o dramaturgo.

Destaque na montagem também são os chamados personagens alegóricos, como a Torre Eiffel, o Cristo Redentor, e a Gripe Suína. "Eles conversam como se fossem figuras humanas. Buscamos essa despretensão também", justifica o carioca, animado com a estreia.

Publicidade

Serviço

Oui, Oui... A França é Aqui! A Revista do Ano. Teatro da Reitoria (R. XV de Novembro, 1.299), (41) 3360-5066. Dias 25 e 26 às 21h. R$ 45 e R$ 22,50.