Almas à Venda (confira a programação completa), o primeiro longa da francesa Sophie Barthes, radicada nos Estados Unidos há dez anos, é um mergulho burlesco nos recônditos da psique, com um pé na ficção científica mais extravagante e o outro no teatro do absurdo.
O ponto de partida é original existe uma tecnologia que extrai a alma do corpo e introduz nele a de outra pessoa e abre espaço para uma reflexão sobre as neuroses da profissão de ator.
O nova-iorquino Paul Giamatti ensaia a peça Tio Vânia, de Chekhov, na qual encarna uma figura depressiva. Isso o angustia a ponto de ele decidir se livrar de sua alma, recorrendo a uma clínica de alta tecnologia.
Depois de operado, ele descobre que sua alma tem o aspecto de um grão de bico, que cai no chão e quase o desespera, e passa a atuar de modo pouco convincente nos ensaios, desconcertando o diretor e os outros atores em cenas engraçadíssimas. Para penetrar mais no personagem, o ator resolve implantar em si a alma de uma poeta russa.
As coisas se complicam quando ele se depara com o tráfico de almas entre a Rússia e os EUA, que acaba dominando o resto do filme. As digressões sobre o espírito perdem então espaço. Uma pena, pois elas cruzavam sarcasmo e Jung, que vincula, em O Homem à Descoberta da Sua Alma, a tragédia do homem moderno ao distanciamento da alma.
Outra referência é o romance Almas Mortas, de Gógol, uma sátira da Rússia escravocrata. Do mesmo modo, o filme satiriza pelo absurdo a sociedade americana e seu pragmatismo aparentemente sem limites.
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