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"Um bom ano" marca a tentativa do diretor Ridley Scott e do astro Russell Crowe de se aventurarem na seara da comédia romântica, com toques de comédia de pastelão.

É sempre louvável que artistas de talento tentem inovar em gêneros novos. Mas, a julgar por este filme, a comédia não é o forte nem de Scott, nem de Crowe. Percebe-se em cada quadro do filme o grande esforço que fazem para torná-lo leve e divertido. O resultado é que, em vários momentos, "Um bom ano" não é nada menos que desajeitado.

O currículo invejável de Scott e Crowe e a idéia de passar duas horas agradáveis no sul da França com um filme baseado num romance do popular escritor de relatos de viagem Peter Mayle vai atrair muitos espectadores ao cinema para ver "Um bom ano".

Mas, como o vinho com gosto de vinagre produzido no vinhedo da Provença que aparece no filme, o sabor amargo levará a uma divulgação boca-a-boca não muito boa.

O prólogo do filme (cujo roteiro é de Mark Klein, de "Escrito nas estrelas"), mostra o herói, o britânico Max Skinner (Freddie Highmore) quando era menino aprendendo sobre o vinho e a vida na fazenda de seu Tio Henry (Albert Finney). Mas, apesar do ambiente idílico e harmonioso, o jovem Max não hesita em trapacear quando joga xadrez com seu tio.

Em seguida, a história passa por um "fast forward". Vamos encontrar Max adulto (Russell Crowe), um implacável corretor de ações de Londres. Ele subverte todas as normais legais para faturar milhões, vê belas mulheres como troféus, se orgulha de sua própria indiferença e se recusa a tirar férias, por temer que um corretor ainda mais implacável que ele roube seu emprego.

Quando chega a notícia de que seu tio morreu, e que sua mansão e os vinhedos que a cercam agora são de Max, não é difícil prever que alguns dias sob o sol da França vão fazer Max recuperar seus valores de infância e curá-lo de sua insensibilidade.

O espectador já prevê que alguma bela francesa irá roubar seu coração. Sim, lá está ela: a proprietária de um café Fanny Chenal (Marion Cottilared). Um casal rústico - o velho vinicultor da propriedade, Francis Duflor (Didier Bourdon) e sua vivaz esposa Ludivine (Isabelle Candelier) - com certeza o ajudará a redescobrir sua alma. E ninguém contrataria Albert Finney para representar apenas uma cena, então é fácil prever que Tio Henry vai reaparecer em flashbacks para lembrar a Max aquilo que ele perdeu com o tempo.

As sequências londrinas são filmadas e editadas de maneira frenética para espelhar o estilo de vida agitado de Max. Mas, quando este retorna à França, Scott não deixa o filme relaxar e curtir a paisagem. Em lugar disso, Max gira em círculos com seu carro, buscando orientação, um cachorro morde seu calcanhar, celulares não param de tocar, uma partida de tênis vira uma guerra e Max reforma a mansão num único fim de semana frenético.

O romance entre Max e Fanny parece forçado. Não existe compatibilidade entre eles. Mas o verdadeiro problema é que falta dimensão aos personagens. Se Max só amou uma pessoa em toda sua vida, por que passou anos sem falar com seu tio? Por que perdeu seus valores? Se um coração partido levou Fanny a nunca mais confiar num homem, por que ela se apaixona por Max após um único jantar?

Ainda, por que Francis propositalmente produz vinho ruim, ao mesmo tempo em que usa as uvas de uma plantação secreta para produzir vinho especial de altíssimo preço?

Falta senso de humor ao filme. Sobram gags já gastas sobre cachorros que fazem xixi nas pernas de personagens e turistas americanos que reclamam porque os cardápios são escritos em francês.

Russell Crowe em nenhum momento parece estar à vontade em seu papel. O personagem não é contraditório ou complexo - é apenas confuso, e Crowe não consegue captá-lo a contento.

Há pouca sutileza nas outras atuações, o que é compreensível, já que os papéis são mais caricaturas do que personagens. Uma exceção é dada por Archie Panjabi no papel da assistente de Max.

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