Há filmes que nos repelem já no resumo da história. Vejamos o de Se Eu Ficar: após acidente de carro, Mia Hall (Chloë Grace Moretz), uma estudante de música, entra em coma, um limbo entre a vida e a morte. Ela passa a revisitar, então, momentos marcantes de seu passado recente.
Tem toda a pinta de um dramalhão ordinário, daqueles que pegam o espectador pelo pescoço e o obrigam a chorar fazendo chantagem sentimental com a música ou com acontecimentos trágicos.
Para piorar essa impressão, lencinhos de papel são distribuídos na bilheteria. Sim, sabem que a história baseada num romance de sucesso de Gayle Forman pode nos comover. Um conhecimento mínimo de como anda Hollywood nos faz esperar pelo pior.
Mas o filme se revela, ao menos na primeira hora, um melodrama correto, que explora as diferenças entre o erudito e o punk rock com inteligência e a forma como a música aproxima Mia do cantor de uma banda em ascensão Adam (Jamie Blackley).
A família de Mia é perfeita. A mãe e o pai são roqueiros, de mente aberta e responsabilidade. Apoiam a menina em tudo, inclusive no estudo de violoncelo. Como é um melodrama, o conflito deve surgir de algum lugar.
É, na verdade, um conflito interno. Mia deve lutar para viver, para sair de sua condição e abraçar o que a vida lhe deixou. Ou o que sobrou do acidente com o carro onde estavam também o pai, a mãe e o irmão mais novo.
Se este primeiro filme de ficção para cinema de R.J. Cutler (diretor de televisão e de alguns documentários) peca em algum aspecto é na representação do amor entre Mia e Adam. Ela tem um dilema: estudar na melhor escola de música, do outro lado do país, ou ficar com ele.
O cinema americano sabia amarrar muito bem a relação entre duas pessoas apaixonadas com os obstáculos que enfrentam. Aqui, parece faltar algo, uma fagulha maior de paixão entre os dois, algo mais carnal. O romance soa meio fajuto, como os dos reality shows.
Deixe sua opinião