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Na década de 90, o bacana era ser machão. Nove entre dez bandas da época exibiam, com a mesma disposição, tatuagens feiosas e letras sobre as maravilhas de ser tosco. Com o passar dos anos, a tendência mudou radicalmente. Sai de cena Raimundos, entra Los Hermanos – e o legal agora é expressar um lado mais "sensível", melancólico até. Mesmo grupos broncos, como Charlie Brown Jr. e Detonautas, andam compondo canções melosas. Difícil saber qual dos dois mundos é pior.

Mas então aparece o Moptop, promissora formação carioca revelada na internet e que acaba de lançar seu primeiro CD, auto-intitulado, pela multinacional Universal Music. Com média de idade de 27 anos, Gabriel (voz, guitarra), Rodrigo (guitarra), Daniel (baixo) e Mario (bateria) estão mais para a turma da "sensibilidade". Soam como uma combinação exata entre os conterrâneos do Los Hermanos e os nova-iorquinos do Strokes, papas do rock dos anos 2000. Bebem tanto nas duas fontes que as semelhanças chegam a ser constrangedoras. Com um porém: têm senso de humor, artigo raro entre os conjuntos tristonhos da atualidade.

Não o humor das bandas engraçadinhas, tipo Mamonas. Com uma certa ironia, o Moptop (o nome vem do corte de cabelo dos Beatles em sua primeira fase) fala sobre o mito do amor perfeito, a vida na cidade e a apatia generalizada. Tudo de forma leve e, principalmente, pop. E é aí que mora o potencial do quarteto. Gabriel, o líder, escreve letras simples e melodias ganchudas, capazes de agradar tanto ao público do underground quanto das rádios FM. Que o digam as candidatas a hit "Uma Chance", "Paris" e "O Rock Acabou".

O cantor e guitarrista, no entanto, prefere seguir o caminho dos supracitados Hermanos, apostando na formação de uma platéia pequena e fiel. "Posso estar sendo ingênuo, mas não vejo o Moptop como uma banda de massa. Por mais que o nosso público se amplie com este disco, a gente sempre quer estar associado à vanguarda do rock alternativo nacional", diz. Sobre seus colegas mais populares, como Pitty e CPM 22, ele é enfático. "Não me emocionam. Mas são importantes para puxar o público mais jovem. Fico preocupado quando vejo a garotada indo ao show do Capital Inicial, sem saber o que anda acontecendo de bom no circuito das bandas novas".

Se as canções de Gabriel vão tocar por aí, não dá para saber. Mas estão a anos-luz de 90% da breguice depressiva composta pela geração pós-Los Hermanos. Deixando de lado a fama de "Strokes brasileiros", o Moptop vai para as cabeças. Olho neles!

"Faking of"

Famoso pelo caprichado site oficial www.moptop.com.br, o grupo carioca também virou mania no portal de vídeos YouTube. Lá está disponível um "polêmico" making of do CD, no qual os integrantes brigam entre si, malham e são malhados pelo produtor Chico Neves, e se fazem de desentendidos quando o assunto é a influência do Strokes. Trata-se, na verdade, de um "faking of", uma brincadeira forjada pelo quinteto e os diretores Bruno Natal e Felipe Continentino. "É uma gozação com os making of, que na maioria das vezes são armados mesmo. Só que muita gente acreditou naquilo. Até minha mãe achou que eu mostrei demais a nossa intimidade", diverte-se Gabriel. GGG1/2

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