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Alessandro Nívola (à esq.) e Reese Whiterpoon (centro) estão na trama baseada em fatos reais | Divulgação
Alessandro Nívola (à esq.) e Reese Whiterpoon (centro) estão na trama baseada em fatos reais| Foto: Divulgação

Cinema

Veja informações deste e outros filmes no Guia Gazeta do Povo.

A grande qualidade de Sem Evidências, filme dirigido pelo canadense, nascido no Egito em família de origem armênia, Atom Egoyan (de O Doce Amanhã), é ser um antithriller hollywoodiano, sem direto a revelações catárticas, punições exemplares ou a um desfecho redentor, que lave a alma do espectador.

Baseado em fatos reais, o longa-metragem reconstitui um crime ocorrido em uma pequena cidade do Arkansas, no sul dos Estados Unidos: em maio de 1993, três adolescentes foram acusados pelo assassinato brutal de três meninos que passeavam de bicicleta em um bosque da localidade. Pesava contra os réus o fato de participarem de rituais de magia negra e serem aficionados por heavy metal, além de depoimentos obtidos de forma muito duvidosa pela polícia, ansiosa por esclarecer um caso que gerou enorme comoção popular (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo).

Pré-julgados pela opinião pública antes de uma sentença formal, os rapazes contaram com a solidariedade de um investigador (Colin Firth, de O Discurso do Rei), que se desdobrou em esforços para evitar que fossem condenados à pena de morte injustamente.

O filme defende a tese de que a verdade é um mero detalhe quando a narrativa oficial entra em consonância com as expectativas da população, que em um caso como esses quer ver ser aplicada, sem piedade, a lei do olho por olho, dente por dente.

A única envolvida que acaba tendo suas convicções abaladas pelas dúvidas em torno da autoria do crime é a mãe de uma das crianças assassinadas (Reese Whiterspoon, de Johnny & June) – há tantos indícios de irregularidades nas investigações, suspeitas de que outras pessoas, inclusive parentes das vítimas, estejam envolvidos no caso, que ela tenta, mas não consegue, mudar o rumo do julgamento. Não lhe é dado o direito de ter dúvidas.

Egoyan talvez frustre as expectativas de quem vai ao cinema em busca de histórias prontas, que não dão margem a inquietações ou questionamentos: ele investe em um registro híbrido, que mistura drama, mistério e filme de tribunal, sem se colocar em qualquer momento como dono da verdade. Ele assume sua dúvida de forma muito evidente, e isso talvez explique as opi­niões divididas em relação ao filme, uma obra imperfeita, mas à qual não se consegue ficar indiferente. Lembra Os Suspeitos, de seu conterrâneo Dennis Villeneuve, porém menos vigoroso, talvez por ter a vida real, e todas as suas contradições, como substrato. GGG

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