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Vídeo | Reprodução / Paraná TV
Vídeo| Foto: Reprodução / Paraná TV

TRILHA SONORA

Além dos artistas convidados, que participam do espetáculo Os Humores do Poeta em cada uma das seis cidades visitadas, Lu Paludo conta com uma participação bem especial. A filha Carolina Paludo Sulczinski, de 13 anos, compôs ao piano a música da primeira parte da montagem, "Um Corpo Bem de Perto".

A trilha sonora, no entanto, foi montada pela própria bailarina, que também inseriu a gravação de um poema homônimo ao solo que interpreta (Pobre corpo, que tragédia;/Tem um tempo:/Du-ra-ção/Um ritmo:/Pul-sa-ção/ Uma cor:/Cor-ação.../Tum, tum; tic, tac) "Questiono o ritmo o tempo todo", diz. Em meio à música de Carol, alguns silêncios.

O segundo solo, "ViLa, ViLLa, ViLLLa..." tem música criada pela banda Colorir, formada pelos gaúchos Pedro Rosa Paiva e Peter Gossweiler. A artista mescla coreografias, intervenções, performances, música e texto no espetáculo.

"Posso virar um cambalhota?", "Alguém me faça parar de falar". Com frases como essas, a bailarina Luciana Paludo provocou as pessoas que já assistiram ao espetáculo Os Humores do Poeta, nas apresentações feitas em Florianópolis e em Votorantin (SP), primeiras das seis cidades brasileiras por onde passará a turnê.

Não houve retorno da platéia às suas palavras. O que não impede que isso venha a acontecer em Curitiba, próximo pouso do espetáculo contemplado pela Caravana Funarte de Circulação Nacional, que estará em cartaz no Teatro Londrina hoje, amanhã e sexta-feira, às 20 horas.

Dialogar com o público e com os artistas dos lugares por onde passa é o que almejou a coreógrafa gaúcha ao criar a montagem, formada por dois solos de 30 minutos cada, que contrastam entre si. O primeiro, "Um Corpo Bem de Perto", é denso, pesado e, por isso, lírico. "É bege, sem cor, há somente uma luz branca. É minha alma ali", conta.

O segundo, "ViLa, ViLLa, ViLLLa...", é mais "humorado", colorido. "O estado de ânimo resulta em diferentes atitudes do corpo", explica. Há vários (bons) humores nesta última parte: o humor lúdico, o lírico e o urbano – "brinco que este último é um humor que usa tênis", diz.

Há também o humor da bailarina e o de Marila Velloso, lado a lado. A coreógrafa curitibana divide o palco com Luciana, mas com uma seqüência própria. Se as duas contrastarão movimentos ou entrarão em plena sintonia, só o momento dirá.

Marila entra em cena depois que a performer Paula Krauser arruma, à sua maneira, a bagunça deixada ao fim do primeiro solo. Depois de um tempo, volta ao palco Luciana, que terá seus movimentos "contaminados" pela seqüência de sua convidada. "É um trabalho que lida com a afetividade. O convidado interfere no meu movimento, mas sem modificá-lo", explica. Muda apenas a velocidade, o peso e o ritmo dos gestos da artista.

A cada cidade, Luciana interage com um convidado local. Em Florianópolis, a bailarina Elke Siedler apropriou-se completamente do vocabulário criado pela coreógrafa. "Dançamos juntas, e foi bom. Já em Votorantin, os convidados trabalharam apenas com pedaços da seqüência. Tudo depende da receptividade de cada artista. São pessoas muito experientes, que adoro ver dançar", conta.

Retorno à cidade

A bailarina, nascida em Passo Fundo, mas radicada em Porto Alegre, está eufórica com a possibilidade de se apresentar em Curitiba. Foi aqui, com a colega de classe Marila Velloso, que ela começou a dançar. As duas se formaram na Faculdade de Dança administrada pela PUC em parceria com a Fundação Teatro Guaíra, hoje Faculdade de Artes do Paraná – FAP. "Morei aqui de 1986 a 1991", conta. Agora, Lu Paludo volta com sua companhia, a Mimese Cia. de Dança Coisa, para sua primeira apresentação na cidade.

E vem sem medo, pela primeira vez em sua trajetória profissional. Seu novo espetáculo significa uma espécie de libertação artística. "Eu negava meu movimento, achava que era politicamente incorreto, démodé. Descobri a simplicidade de assumir o que está acontecendo comigo. Não faço o espetáculo para a crítica, faço o meu trabalho, e estou aberta a todas as críticas", explica.

Para a bailarina, há uma exigência de mercado que impõe regras de conduta. Exemplos são a tendência estrangeira, seguida por muitos grupos nacionais, que prega a não-dança, ou seja, a minimização dos movimentos, e a noção de que dança contemporânea precisa necessariamente causar estranhamento. "Quem escreveu o manual da dança contemporânea?", contesta. Para ela, o artista da dança precisa encontrar sua peculiaridade e não apenas seguir tendências, sob o risco de cair no vazio.

Dessa insatisfação com a própria arte nasceu a primeira parte de Os Humores do Poeta. O corpo seminu da artista ganha grandes proporções ao ser projetado por uma sombra e, pouco a pouco, vai se revelando e se transformando, a partir de seus movimentos. Ela não se envergonha ao expor as marcas de sua carne. "Tenho os sulcos, as tensões no pescoço que 25 anos de dança fizeram no meu corpo", conta.

Aos 37 anos, Luciana espelha-se em modelos como a bailarina e coreógrafa Pina Bausch, de 66 anos. São pessoas que imprimem na dança as marcas da vida. "Vejo a dança como uma forma de existir. Não consigo separar o desejo de vida e de dança."

Serviço: Os Humores do Poeta. Teatro Londrina (R. Claudino dos Santos, 79 – Memorial de Curitiba), (41) 3321-3263. Com a Mimese Cia de Dança Coisa. Direção e encenação de Luciana Paludo. Dias 2, 3 e 4 de maio às 20 horas. Entrada franca.

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