Quando veio ao Brasil, em outubro do ano passado, para apresentações no Rio de Janeiro e em Curitiba como atração principal do Tim Festival, o trio nova-iorquino Beastie Boys encontrava-se em fase de gravações do que viria a ser o sétimo álbum de sua discografia, iniciada triunfalmente em 1986, com a obra-prima Licensed to Ill.
Em entrevista ao Caderno G, concedida semanas antes do festival, Adam Horovitz (vulgo Adrock) não deu grandes detalhes sobre o que os fãs poderiam esperar do novo disco em que ele e os parceiros Adam Yauch (MCA) e Mike Diamond (Mike D) vinham trabalhando, limitando-se a revelar apenas uma possível exploração de "sonoridades mais roqueiras".
O suspense foi mantido até poucas semanas antes do lançamento de The Mix Up, que chegou oficialmente às lojas estrangeiras no final de junho (e brasileiras no fim de julho), quando as novas canções convertidas para o formato mp3 já circulavam em programas de compartilhamento de arquivos por todo o mundo.
Segundo a própria banda, o álbum teria influências claras de formações pós-punk como Public Image Ltd. (mais conhecido pela sigla PiL projeto do vocalista John Lydon após sua saída do Sex Pistols, em 1978) e Gang of Four (quarteto inglês que esteve na ativa de 1977 a 1984, retornando à cena em 2005, quando se apresentou no Brasil).
Tantas dicas falsas, típicas do humor irônico e debochado dos comparsas nova-iorquinos, talvez expliquem a esquisita reação inicial a The Mix Up: uma leve decepção. Afinal de contas, imaginar os três quarentões voltando às origens punk após mais de duas décadas de carreira é algo, no mínimo, excitante basta uma ouvida completa no visceral Some Old Bullshit (1994), compilação das faixas da fase harcore punk gravadas pelo trio antes do enveredamento para o hip-hop. Mas a não-concretização de tal expectativa é o único motivo capaz de desapontar o ouvinte de The Mix Up (ou mesmo os fãs que vêm acompanhando a trajetória do trio ao longo dos anos).
A visceralidade da fase punk quando Adrock, Mike D e MCA empunhavam, respectivamente baixo, bateria e guitarra reaparece no sétimo álbum, assim como foi o ponto alto de ambas as apresentações brasileiras do ano passado, encerradas com o trio tocando as ótimas "Sabotage" e "Gratitude" em formato banda. A grande diferença, é que ao invés de punk rock e hardcore, as 12 canções de The Mix Up trazem à tona a faceta jazz-funk-groove do trio, já conhecida do público graças a faixas instrumentais incluídas nos clássicos Check Your Head, de 1992 ("Gratitude", "Lighten Up", "Pow", "Groove Holmes", "In 3s" e "Namasté") e Ill Communication, de 1994 ("Bobo on the Corner", "Sabrosa", "Eugenes Lament", "Rickys Theme" e "Shambala").
Totalmente instrumentais com exceção de algumas conversas paralelas, risadas e gritos dos próprios integrantes registrados em meio às sessões de gravação, realizadas ao vivo, ou seja, com todos os músicos tocando ao mesmo tempo , as músicas do novo álbum mergulham em atmosferas de funk setentista dignas de trilhas sonoras de produções do cultuado gênero blaxploitation (filmes de ação norte-americanos dirigidos ao público negro, produzidos nos anos 70).
Com o apoio dos músicos Mark Nishita (vulgo Mark Money) nos teclados e Alfredo Ortiz na percussão, MCA, Mike D e Adrock, longe de simular um pseudo-amadurecimento musical ao gravar um álbum inteiro tocando instrumentos as limitações técnicas dos integrantes não são disfarçadas em momento algum , mostram que são capazes de compor canções leves, divertidas e dançantes, mesmo sem os jograis de vozes esganiçadas e rimas elaboradamente sarcásticas.
A levada dub de "Suco de Tangerina" (sim, eles se apaixonaram pela bebida durante a passagem pelo Brasil); a psicodelia de "The Gala Event"; o descompromisso da jazzística "Freaky Hijiki"; e os excelentes riffs roqueiros de "Off the Grid" e "The Cousin of Death", provam que, em certos casos, palavras são completamente desnecessárias. GGG1/2
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