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Lemêtre no show do Paiol da última terça: interação | Luiz Cequinel/Divulgação
Lemêtre no show do Paiol da última terça: interação| Foto: Luiz Cequinel/Divulgação

Interatividade

Qual o papel da música no teatro?

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A vinda a Curitiba de Jean-Jacques Lemêtre, músico do parisiense Théâtre du Soleil e um dos mais respeitados em sua área no mundo, pela segunda vez em pouco mais de seis meses faz pensar que ele tem interesses por aqui. Em conversa com a Gazeta do Povo no Espaço de Criação Ave Lola, grupo que o convidou em parceria com a Fundação Cultural, ele explica que deseja plantar sementes pelo mundo que possam levar a uma "renascença". O grupo de quase 50 anos, que não tem relação com o canadense Cirque du Soleil, reintroduziu a música em cena, conforme conta seu principal compositor:

O Soleil mudou o uso da música no teatro?

Acho que sim, porque quando iniciamos a parceria [dele com a diretora Ariane Mnouchkine] mudou a premissa: passou a haver um músico ao vivo em cena, e isso muda as coisas. Para mim, para o diretor, para os atores, para o espaço. Desde então, nenhum ator entra em cena sem música, isso não existe. Eles me procuram para falar um pouco do que irão fazer, é uma triangulação constante entre cena, o diretor e a música.

Poderia falar mais sobre sua visão da música no teatro?

Para isso precisaria de quatro horas.

Qual a diferença entre esse teatro que preza pela música e a dança?

Na próxima vida vou trabalhar com a música na dança. Quando eu cheguei ao teatro, percebi que havia algo errado, que algo havia sumido. Precisávamos voltar ao teatro grego antigo para reencontrar algo que havíamos perdido, ou esquecido. Então precisei pesquisar, mas não como cientista, e sim nutrindo-me para ver como meus ancestrais musicistas faziam. A música de teatro que eu vejo no Oriente, eu precisava descobrir para quê ela servia. E vi que não era para criar uma coreografia. Eu ainda não cheguei ao fundo dessa pesquisa, talvez daqui a mil anos-luz.

E o que se perdeu?

Não havia mais música no teatro. Ela servia a ocupar os momentos entre os atos. Estávamos fazendo barulho? Então, música! Um personagem precisa se trocar? Vamos esperar? Fecha a cortina, e música! Quando se representava a guerra havia tambores, clarinetes. Quando se amavam, havia o violão. Parti de muito embaixo para descobrir o que estava perdido.

Quando um grupo não sabe trabalhar a música, ela pode entrar em conflito com o texto?

Sim, claro. Pode acontecer. Mas essa combinação pode ser feita, ter as duas coisas ao mesmo tempo. Por outro lado, o que interessa no teatro é justamente o conflito. Se não tiver isso, nos entediamos. Como na vida.

O que você acha do teatro brasileiro?

O pouco que vi não é representativo, não sei o que é o teatro brasileiro. De qualquer forma, as palavras ‘julgamento’ e ‘opinião’ não fazem parte do meu vocabulário. Não me interessa julgar, ter uma opinião. Não serve para nada.

O teatro francês foi muito influenciado pelo Soleil?

Não quero parecer pretensioso, mas acho que sim. Porque, quando vejo um espetáculo, digo "ahá! Eu sei qual a fonte, a origem!". Mas é normal, fui o primeiro a refazer isso [a música em cena]. O Soleil foi uma escola-piloto. Muitos atores e diretores vêm para se inspirar, entender como funciona. Como nessa viagem a Curitiba, em que estamos conversando... Há toda uma comunicação no mundo com pessoas que viram nossos espetáculos, filmes, vídeos.

Qual seu interesse no Brasil?

É algo muito simples. Para mim meu trabalho tem duas vias, e devo plantar pequenas sementes no mundo todo para que, talvez, no futuro, outro Soleil nasça. E eu devo cuidar para que ninguém pise nelas, para que cresçam e haja uma renascença. Não é uma questão de "evangelizar", não há nada de religioso. É apenas um trabalho que eu faço e visivelmente é reconhecido por milhões de pessoas que viram nossos espetáculos. Então podemos dizer que não estamos errando, há uma certa sinceridade que temos desejo de transmitir. É algo simples, trabalhei uma grande parte da vida e agora tenho vontade de transmitir isso. Não simplesmente entregar algo e sim explicar, falar com as pessoas e continuar tentando melhorar o que fazemos.

Qual a diferença do jeito do Soleil de trabalhar como grupo?

Temos um encontro de gente de teatro com cenógrafos, quem fabrica as máscaras, as costureiras, os iluminadores, quem quiser participar do trabalho com as regras que colocamos. E é isso temos vontade de buscar, criar algo que dê prazer ao público, que lhe traga algo, que o faça reagir e que nos nutra também para continuar a buscar e criar.

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