O casamento entre imagem e texto no livro de Sempé é incrível: acima, um ciclista disputa a Volta da França| Foto: Imagens/Reprodução

Raul Taburin é perfeito e simples. Com um mínimo de traços, poucas cores e legendas debaixo das imagens, o livro do escritor e desenhista bordalês Jean-Jacques Sempé narra as dificuldades de um menino que não consegue se equilibrar na bicicleta, limitação que acaba definindo quem ele é e o lugar que ocupa no mundo. No entanto, ser incapaz de pedalar sobre duas rodas não o impede de realizar muitas outras proezas. Raul Taburin, o garoto em questão, tenta cercar o problema de todo jeito. Chega a estudar mecânica e analisar as partes do veículo a fim de entender o que o impede de sair pedalando por aí sem a ajuda de rodinhas. Não superou sua dificuldade, mas se tornou uma referência na cidadezinha de Saint-Céron.

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Adulto, Taburin abriu uma oficina e seu conhecimento de bicicletas – na verdade, o seu talento para consertá-las – fez com que a cidade passasse a usar seu nome para se referir às magrelas. Ninguém mais dava uma volta de bicicleta e, sim, de "taburinha".

Assim como as pessoas de Saint-Céron não falavam óculos, mas de "bifalhas", graças ao oftalmologista local, o dr. Frederico Bifalha. O açougueiro Augusto Tourinho se tornou sinônimo de salame e, mais tarde, o fotógrafo Hervé Figure se dispôs a fazer "figures" de todos os habitantes locais.

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Taburin nunca contou o seu segredo para ninguém. Tentava dissimular o problema com piadas e uma personalidade festiva. Todo mundo achava que ele era um comediante, andando pela cidade de triciclo. Era animado e expansivo, mas vivia sozinho. Levou um tempo, mas acabou casando. Seguiu com a vida tentando ignorar o fato de não ter equilíbrio.

Ele e Figure se tornam amigos e este cria uma situação da qual Taburin não conseguirá fugir – o amigo quer fazer um retrato dele, andando de bicicleta, descendo uma encosta perigosa. As consequências da ideia são trágicas, embora o desfecho da história não o seja.

Num livro para crianças – mas não só para elas –, Sempé fala de limitações, solidão, medo, superações e frustrações. Não dá lições de moral, não é chato nem edificante. É, enfim, perfeito. GGGGG

Serviço:

Raul Taburin, de Sempé. Tradução de Mario Sergio Conti. Cosac Naify, 96 págs., R$ 47.

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