| Foto: Divulgação
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É difícil responder, de pronto, a que gênero cinematográfico pertence Casablanca. O clássico de Michael Curtiz, um húngaro naturalizado norte-americano, completa 70 anos em 2012 e até hoje é complicado classificá-lo. Não há dúvidas de que seja um romance: a história do amor impossível entre Rick Blaine (Humphrey Bogart) e Ilsa Lund (Ingrid Bergman) está indelevelmente gravada no imaginário dos amantes da sétima arte há gerações.

Casablanca, no entanto, também é um importante drama bélico. Lançado em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, o filme se passa no Marrocos, quando a França, do qual o país do norte da África era colônia, estava ocupada pela Alemanha. A resistência à expansão nazista, portanto, tem um papel tão relevante quanto a love story entre os protagonistas, até porque dela não pode ser dissociado.

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VÍDEO: Assista ao trailer original do filme Casablanca

Rick, personagem de Bogart, é uma espécie de aventureiro existencialista que, no início da trama, é o proprietário de uma casa noturna em Casablanca, o hoje lendário Rick’s Café. Sobre ele, pouco se sabe: há rumores de que um crime, ou uma grande desilusão amorosa, o tenha levado até lá. Aparentemente blasé e indiferente ao que acontece ao seu redor, o personagem, envolto por uma aura de mistério, vê seu mundo virar do avesso com a chegada à cidade de Victor Lazlo (Paul Henreid), homem-chave na luta contra os nazistas, e sua mulher, Ilsa. No passado, logo ficamos sabendo, ele e Ilsa viveram uma paixão, mas o destino, a guerra e o senso de dever os separaram.

O reencontro entre os dois amantes é fulminante: poucos acordes da canção "As Times Goes By", dedilhados pelo pianista e cantor Sam, amigo de Rick, fazem com que a antiga chama se reacenda. Mas Ilsa agora é casada, e com um herói da resistência francesa. É o que basta para que se instale um dos maiores dilemas morais já retratados pelo cinema.

Por último, além de drama romântico e de guerra, muitos historiadores e teóricos também classificam Casablanca como um legítimo film noir, e não apenas pela presença no elenco de Bogart, que no ano anterior havia vivido o investigador Sam Spade em Relíquia Macabra, de John Huston, adaptação para o cinema do romance O Falcão Maltês, clássico do gênero assinado por Dashiell Hammett.

Curtiz, oriundo do Les­­te Europeu, teve sua formação cinematográfica muito influenciada pelo Ex­­pressionismo Alemão, matriz estética do cinema noir. E Casablanca, um filme povoado de personagens ambíguos, como o capitão Louis Renault (Claude Rains) ou o ardiloso Ugarte (o também húngaro Peter Lorre, que fez filmes expressionistas, como M., O Vampiro de Dusseldorf), bebe muito dessa fonte. Da fotografia de Arthur Edeson, marcada pelo uso de sombras, de enquadramentos oblíquos, até a própria decisão de não se render à tentação de um final feliz.

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Final infeliz

Ninguém mais questiona que Casablanca tenha se tornado um clássico um pouco ao acaso. A Warner, à época, produzia anualmente um longa-metragem por semana. Façam as contas.

O roteiro nasceu de uma peça teatral, assinada por Mur­­­­ray Burnett e Joan Alison, chamada Everybody Comes to Rick’s, que sequer havia sido montada quando "desembarcou" em Hollywood. O primeiro tratamento foi dado pelos irmãos Julius J. e Philip G. Epstein, que priorizaram elementos como a resistência francesa ao nazismo e a própria situação de pessoas impedidas pela guerra de sair do Marrocos.

O título também foi alterado. Casablanca foi considerado mais comercial depois do sucesso, alguns anos antes, do romance Argélia, com Charles Boyer e Hedy Lamarr. Algo, no entanto, estava faltando à história.

Coube aprofundar o caso de amor entre Ricky e Ilsa a Howard Koch, o terceiro roteirista creditado, e que dividiu o Oscar de melhor roteiro com os Epstein – a produção também ganhou as estatuetas de melhor filme e direção, em 1944.

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Sabe-se, no entanto, que muitas das cenas eram escritas horas antes de serem rodadas e o desfecho, no qual o casal principal abre mão de seu amor em nome da luta contra o nazismo, foi decidido após muita discussão.

Se a opção tivesse sido por um happy end tradicional, Casablanca não seria o que é hoje. Tampouco se houvesse vingado a primeira escolha de elenco, com atores de segundo time: foi pensada, para o papel de Ilsa, Anne Sheridan, e para viver Rick, Ronald Reagan, que recusou o papel e se tornaria, anos depois, presidente dos Estados Unidos.