Rio de Janeiro - Stanislaw Ponte Preta é herdeiro do humorista Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé. Inventor do Febeapá Festival de Besteira Que Assola o País , Stanislaw praticou um humorismo que inspirou O Pasquim e as sacanagens obsessivas da turma do Casseta e Planeta. O Febeapá parece atemporal no Brasil, país do eterno retorno, onde as coisas mudam para ficar iguais. Stanislaw é, a uma só vez, retrato de uma época e deste presente. Mas a edição de A Revista de Lalau , livro de textos inéditos e dispersos, e uma consulta ao Arquivo Biográfico Sérgio Porto na Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) revelam que nem só de Stanislaw Ponte Preta é feito um Sérgio Porto (1923-1968).
"O leitor atual não tem noção da multiplicidade intelectual e do nível de curiosidade desse sujeito", diz Paulo Roberto Pires, editor da Agir, que publica o livro. Sérgio Porto escreveu sobre cinema e música, foi cronista da noite e de futebol, além de ter trabalhado na televisão e no rádio, e elaborado scripts de shows e composições ("Samba do Crioulo Doido"). A Revista do Lalau, esteticamente idealizada para se parecer com um periódico dos anos 1950 (Sérgio Porto trabalhou nas revistas Cruzeiro e Manchete), contempla essas faces do jornalista carioca, um dos responsáveis pela renovação da linguagem na imprensa. Além de ser um inventor de tradições, ele soube traduzir nas crônicas a linguagem do morro para a classe média.
Um dos textos de A Revista..., que traz fotos do arquivo da família, é "A Pequena História do Jazz" (1953), primeiro livro de Sérgio Porto. Sérgio exaltava Louis Armstrong e Pixinguinha. "Ele era conservador em termos musicais", diz Cláudia. O jornalista criticou a bossa nova, a jovem guarda e a tropicália. Seu gosto pelo samba vem do contato com Lúcio Rangel, seu tio, e com Almirante, cujas pesquisas sobre a música brasileira são fundamentais até hoje. Sérgio, a quem se atribui a invenção do termo bossa nova, promoveu o trânsito dos artistas do morro na zona sul. Redescobriu Cartola em um lava-rápido e ajudou Nelson Cavaquinho a pagar alguns móveis. Um dos traços do seu caráter era a generosidade.
Próximos lançamentos e uma biografia
"O Elefante", outro dos textos de A Revista de Lalau, é um conto, gênero pouco praticado pelo humorista Sérgio Porto. Ele foi censurado. "É uma alegoria contra a ditadura militar", diz Paulo Roberto Pires, editor da Agir. Apesar de ser um defensor apaixonado de Copacabana, onde morou durante toda a vida, Sérgio Porto escreveu "Garota de Ipanema", uma novela sobre o bairro vizinho. Defendia com paixão, mas não era cego. Ele não vendia a imagem de Copacabana como a princesinha do mar. Era nostálgico de um tempo em que os laços afetivos eram mais bem atados, quando os vizinhos se conheciam pelo nome.
Além do calendário das certinhas do ano de 1968, A Revista do Lalau publica O Transplante, romance inacabado. Garoto Linha Dura, livro de crônicas, tem previsão de chegar às livrarias no começo do próximo ano.
As certinhas do Lalau, principal feito de sua passagem pela Manchete, nasceu de uma brincadeira com o colunista social Jacinto de Thormes. Em 1954, o "coleguinha" publicou uma lista das Mulheres Mais Bem Vestidas do Ano. Stanislaw Ponte Preta, para não ficar por baixo, inventou a lista das Mulheres Mais Bem Despidas do Ano. Dois anos depois, Jacinto mudou o nome para As Mais Elegantes do Ano. Aparecer entre as certinhas se tornou a ambição das vedetes da época.
A Revista do Lalau é o sétimo título lançado pela Agir. E uma oportunidade de conhecer a multiplicidade do inventor da família Ponte Preta, composta por Stanislaw, Tia Zulmira, Primo Altamirando e Rosamundo, moradores de um casarão suburbano na Boca do Mato. "Toda uma geração não o conhece", diz Ângela Porto. Uma das três filhas de Sérgio com Dirce, Ângela lembra que o sumiço das obras do pai nas livrarias começou a partir de meados dos anos 1970. Ângela trabalhou na Fundação Casa de Rui Barbosa entre os anos 80 e 90. Doou um acervo com material variado, de cartas a textos de e sobre Sérgio Porto publicados na imprensa. Somente um terço do que ele produziu teria sido publicado em livro. Para escrever De Copacabana à Boca do Mato (Ed. Rio Barbosa, 332 págs., R$ 20), biografia de Sérgio Porto, a historiadora Cláudia Mesquita teve de pesquisar no acervo. Como ela buscava o Sérgio por trás de Stanislaw, o arquivo era o lugar ideal, por reunir as crônicas dispersas. É mais um passo para entender um homem que via a cultura como instrumento de solidariedade. Se Sérgio se resolveu com Stanislaw, agora a posteridade pode acertar contas com o jornalista carioca.
A Revista de Lalau (Agir, 272 págs., R$ 89,90).
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