Em tempos de campanha eleitoral, o músico e ator Seu Jorge foge da carreira política, critica o atual governo e prega que cada cidadão tenha seu projeto individual. Na música, defende que seja "sem território, símbolo ou passaporte".
Para Seu Jorge, um dos pontos precários da política nacional é a superficialidade nas discussões, com debates que não apontam soluções.
- O que realmente precisa é cada brasileiro ter um projeto individual para o país - disse à Reuters o cantor, que se declarou descontente com o atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
- Seu Lula está glamourizando a ignorância. Não vejo e hora dele sair. Eu era um dos caras que mais o defendeu. Ele e seu Gilberto Gil (ministro da Cultura). Agora sou completamente contra - afirmou Seu Jorge, que descartou a possibilidade de entrar na vida política.
O seu projeto para o país passa pela união das diferenças.
- Meu grande projeto é desenvolver a aglutinação do povo brasileiro, unir negros, brancos, pobres, ricos, e mostrar que individualmente somos desenvolvidos. Quando saio da favela, deixo de ser um problema social para ser uma solução social - disse ele.
A realidade das comunidades pobres é algo que o músico conhece bem. Nascido Jorge Mário da Silva, em 1970, o filho mais velho do casal Sula e Jorge passou boa parte da infância no Gogó da Ema, uma favela na Baixada Fluminense.
Após a morte de um irmão durante uma chacina, Seu Jorge ficou três anos morando na rua, sem documento de identidade, até entrar em contato com um grupo de teatro da Universidade do Rio de Janeiro.
Lá, aprendeu a atuar e conheceu Gabriel Moura, com quem em meados da década de 1990 formaria a banda Farofa Carioca, um misto de música e performance.
A notoriedade veio, no entanto, com o personagem Maná Galinha, que interpretou em "Cidade de Deus" (2001), filme dirigido por Fernando Meirelles e indicado ao Oscar. O papel abriu espaço para sua carreira de ator no exterior e também para que mostrasse suas composições e atraísse a atenção de selos estrangeiros.
- Tudo isso aconteceu pelo cinema. Depois desse espaço aberto, tive a felicidade de fazer um filme no qual me coloquei como músico. Era eu e o violão, cantando em português - disse Seu Jorge, referindo-se produlção americana "A vida Marinha com Steve Zissou" (2004), em que contracenou ao lado de Bill Murray, Willem Dafoe e Cate Blanchett.
Novo disco
Quanto ao trabalho de cantor e compositor, Seu Jorge o define como "música universal".
- A idéia é fazer música sem território, símbolo ou passaporte, que não dependa do inglês para se comunicar - afirmou em entrevista em sua casa em São Paulo, onde mora há dois anos e mantém uma espécie de estúdio.
Lá, diversos instrumentos e um computador registram brincadeiras e gravações inusitadas, como uma versão da cantiga infantil "Alecrim dourado", cantada por sua filha Flor, de 3 anos.
Após um primeiro disco independente, "Samba esporte fino", em 2001, Seu Jorge lançou "Cru" pelo selo francês Naé, em 2004, e, no ano seguinte, uma trilha sonora para "A vida marinha", com versões em bossa-nova para hits de David Bowie, cantados em português e acompanhados apenas por um violão.
O trabalho do músico recebeu elogios da crítica internacional, que culminaram em participações nos festivais Bonnaroo e Coachella nos Estados Unidos, além de turnês pela Europa e América do Norte.
Mas foi apenas recentemente, com uma bem-sucedida parceria com a cantora Ana Carolina no álbum ao vivo "Ana & Jorge", lançado em CD e DVD, que ele atingiu de fato o grande público brasileiro.
- Isso eu devo agradecer à Ana, que me proporcionou estar mais perto das pessoas, porque é ela que as emociona e leva carinho musical. Ela me deixou com essa responsabilidade agora também - disse Seu Jorge.
Nos intervalos entre turnês, ele gravará um próximo disco, voltado ao público nos Estados Unidos, mas ainda sem previsão de lançamento.
- Eu fiz um disco para a França e deu certo. Agora, é como se eu estivesse olhando o Brasil de dentro dos EUA. Quero tocar uma música muito alegre, que eles (americanos) não estão acostumados a ouvir, aquela coisa que só tem no samba - afirmou.
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