Uma pesquisa recente de uma empresa americana de marketing de mídias sociais indica que, ao menos nos Estados Unidos, o Facebook não é o melhor jeito de influenciar as visões de alguém sobre política.
Dos mais de 10 mil usuários do site ouvidos pela “Rantic”, 94% dos Republicanos, 92% dos Democratas e 85% dos independentes disseram que nunca mudaram de opinião sobre qualquer tema devido a um post político.
A maioria também respondeu que considera o site um lugar inapropriado para discutir política, embora uma quantidade significativa de usuários tenha dito que já postou este tipo de conteúdo na plataforma (39% dos Republicanos, 34% dos Democratas e 26% dos independentes).
Dois lados
A polarização do sistema político norte-americano ajuda a explicar os resultados da pesquisa, na opinião da cientista política Maria do Socorro Souza Braga, da Universidade Federal de São Carlos. Ela explica que, no bipartidarismo, as preferências tendem a estar consolidadas há mais tempo. “Como são apenas dois partidos com capacidade de aglutinar a maioria das preferências para a disputa à presidência, isso acaba unindo setores com visões bastante polarizadas”, explica, por telefone.
“São divisões políticas que precedem [o debate no Facebook]. Não é uma postagem que vai fazer esta mudança em um eleitorado que tem certos valores mais cristalizados”
Quanto mais forte a polarização, mais difícil é que alguém mude de opinião. “Tem mais a ver com as divisões políticas que precedem [o debate no Facebook]”, explica a pesquisadora. “Não é uma postagem que vai fazer esta mudança em um eleitorado que tem certos valores mais cristalizados”, diz.
Pró e contra o impeachment
No Brasil não há o mesmo tipo de polarização eleitoral que acontece no sistema bipartidário americano, ressalta Maria do Socorro. A pesquisa teria resultados diferentes caso fosse aplicada por aqui.
Mas a cientista política diz que a chance de alguém mudar de opinião com postagens no Facebook é igualmente pequena, principalmente em se tratando de questões como o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
“A polarização [aqui] está no impeachment. Com certeza o eleitorado que é pró-impeachment não vai mudar de opinião só porque foi colocada uma postagem no Facebook”, diz a pesquisadora. “Quando esta opinião se torna algo muito forte, não muda. Quem era pró, vai ficar até o fim. A mesma coisa para quem é anti-impeachment. Não é o Facebook que vai mudar isso, por mais que ele influencie no debate político”, diz.
Para Maria do Socorro, as visões políticas tendem a ser reforçadas na rede social. O Facebook, mais do que um ambiente de discussão destas posições, serve mais para aglutinar. “Vejo mais como uma ferramenta de mobilização – seja de um lado ou do outro.”