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Estudantes da Universidade de Brasília se manifestaram a favor de Geisy Arruda quando ela foi expulsa pela UniBan | Roberto Fleury/ AFP
Estudantes da Universidade de Brasília se manifestaram a favor de Geisy Arruda quando ela foi expulsa pela UniBan| Foto: Roberto Fleury/ AFP

O caso Geisy pode revelar muitos aspectos da sociedade contemporânea. O coordenador do Centro de Estudos sobre Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Bodê, afirma que o incidente que aconteceu na UniBan é um recorte revelador do Brasil.

Bodê diz mais: fala que a atitude dos alunos daquela instituição não apresenta componentes de convervadorismo. "As pessoas estão é mais sem vergonha na cara para tomar atitudes sem vergonha", afirma.

O sociólogo da UFPR analisa que a violência dos estudantes contra a jovem Geisy apenas traduz um dos componentes definidores da mentalidade do brasileiro: o sexismo. "So­­me-se a isso, a hipocrisia e o re­­calque, outras marcas do homem, principalmente o brasileiro, contemporâneo", comenta Bodê.

Na interpretação do especialista, Geisy Arruda despertou naquele grupo de jovens desejos que eles nem se davam conta de que ti­­nham e que não queriam admitir (que sentiam). "E quando a pessoa deseja e não pode ter o ‘objeto de desejo’, muitas vezes a ‘saída’ é tentar destruir o que provoca esse desejo", explica Bodê.

Ele comenta que essa situação, desejar e não poder possuir (o que resulta em violência), pode ser observado nos assassinatos de homossexuais e prostitutas. "O Brasil é não apenas um país sexista como homofóbico. Isso não é novidade. Faz parte de nossa ‘tradição’", afirma.

Bodê acredita que mais casos como o que vitimou Geisy tendem a se repetir, continua e esporadicamente, pelo Brasil. Porque, de acordo com a avaliação do sociólogo, um incidente como o que acon­­teceu na UniBan nada mais é do que um acúmulo de muitos pe­­quenos sinais cotidianos da violência. Seja a piada sexista, que pretende "alfinetar" mulheres. Ou os comentários falsamente engraçados sobre homossexuais. "Então, um dia, depois de tanta repetição, algo (a violência física) explode", diz Bodê.

A psicóloga clínica especialista em adolescentes pela Universidade Estadual de Cam­­pinas (Unicamp) Mariana Schwar­­tz­­­­mann afirma que, lamentavelmente, "todo dia é dia de Geisy". "E todo mundo se omite, até o caso tomar proporções televisivas. Ainda acho que, por exemplo, o bullying é algo muito sério e ignorado nas escolas e nas famílias. Vejo jovens sendo transferidos de escolas e até de ci­­dades em consequência de perseguições e ataques morais. Mas isso não é enfrentado. A vítima é retirada da situação e o assunto morre", analisa.

Mariana, a exemplo de Bodê, também acredita que o caso Geisy não contém elementos que evidenciem um possível conservadorismo. "Muito ao contrário. No que diz respeito ao caso Geisy, a intolerância com a diferença aparece porque a sociedade está muito in­­dividualista", diz. De acordo com a especialista, atualmente o outro é uma pessoa que não existe, não cabe na mente jovem. "É claro que isso tem ligação direta com a dinâmica da familia contemporânea, que se omite de discutir valores com os filhos, com a desculpa de falta de tempo. A família tem delegado esses debates aos outros, especialmente à escola, cujo papel não é esse", afirma a psicóloga.

O professor de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Cloves Amorim relativiza o caráter conservador desse comportamento. "Na pós-mo­­­­dernidade, tudo é relativo. O sociólogo polonês Zygmunt Bau­man fala de que as estruturas são líquidas. Hoje, não há apenas vanguardas e conservadores. Obser­­vamos pessoas conservadoras em grupos de vanguarda e vice-versa", afirma Amorim, para quem os jovens que tentaram violentar Geisy Arruda, na Uniban, podem ser definidos como "multidão bestializada".

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