O caso Geisy pode revelar muitos aspectos da sociedade contemporânea. O coordenador do Centro de Estudos sobre Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Bodê, afirma que o incidente que aconteceu na UniBan é um recorte revelador do Brasil.
Bodê diz mais: fala que a atitude dos alunos daquela instituição não apresenta componentes de convervadorismo. "As pessoas estão é mais sem vergonha na cara para tomar atitudes sem vergonha", afirma.
O sociólogo da UFPR analisa que a violência dos estudantes contra a jovem Geisy apenas traduz um dos componentes definidores da mentalidade do brasileiro: o sexismo. "Some-se a isso, a hipocrisia e o recalque, outras marcas do homem, principalmente o brasileiro, contemporâneo", comenta Bodê.
Na interpretação do especialista, Geisy Arruda despertou naquele grupo de jovens desejos que eles nem se davam conta de que tinham e que não queriam admitir (que sentiam). "E quando a pessoa deseja e não pode ter o objeto de desejo, muitas vezes a saída é tentar destruir o que provoca esse desejo", explica Bodê.
Ele comenta que essa situação, desejar e não poder possuir (o que resulta em violência), pode ser observado nos assassinatos de homossexuais e prostitutas. "O Brasil é não apenas um país sexista como homofóbico. Isso não é novidade. Faz parte de nossa tradição", afirma.
Bodê acredita que mais casos como o que vitimou Geisy tendem a se repetir, continua e esporadicamente, pelo Brasil. Porque, de acordo com a avaliação do sociólogo, um incidente como o que aconteceu na UniBan nada mais é do que um acúmulo de muitos pequenos sinais cotidianos da violência. Seja a piada sexista, que pretende "alfinetar" mulheres. Ou os comentários falsamente engraçados sobre homossexuais. "Então, um dia, depois de tanta repetição, algo (a violência física) explode", diz Bodê.
A psicóloga clínica especialista em adolescentes pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Mariana Schwartzmann afirma que, lamentavelmente, "todo dia é dia de Geisy". "E todo mundo se omite, até o caso tomar proporções televisivas. Ainda acho que, por exemplo, o bullying é algo muito sério e ignorado nas escolas e nas famílias. Vejo jovens sendo transferidos de escolas e até de cidades em consequência de perseguições e ataques morais. Mas isso não é enfrentado. A vítima é retirada da situação e o assunto morre", analisa.
Mariana, a exemplo de Bodê, também acredita que o caso Geisy não contém elementos que evidenciem um possível conservadorismo. "Muito ao contrário. No que diz respeito ao caso Geisy, a intolerância com a diferença aparece porque a sociedade está muito individualista", diz. De acordo com a especialista, atualmente o outro é uma pessoa que não existe, não cabe na mente jovem. "É claro que isso tem ligação direta com a dinâmica da familia contemporânea, que se omite de discutir valores com os filhos, com a desculpa de falta de tempo. A família tem delegado esses debates aos outros, especialmente à escola, cujo papel não é esse", afirma a psicóloga.
O professor de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Cloves Amorim relativiza o caráter conservador desse comportamento. "Na pós-modernidade, tudo é relativo. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman fala de que as estruturas são líquidas. Hoje, não há apenas vanguardas e conservadores. Observamos pessoas conservadoras em grupos de vanguarda e vice-versa", afirma Amorim, para quem os jovens que tentaram violentar Geisy Arruda, na Uniban, podem ser definidos como "multidão bestializada".
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