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A humanidade sempre fez uma mesma pergunta esotérica, nunca respondida: de onde viemos? Para quem faz teatro, a resposta é mais simples. Todos vieram de Shakespeare. E, para todo jovem ator, antes de partir para qualquer outro tipo de experimentação ou escola, é necessário primeiro conhecer os textos que há 400 anos servem de base para o trabalho dos seus melhores pares.

A partir de hoje, o grupo de estudantes de Artes Cênicas da Faculdades de Artes do Paraná - FAP, que vai se formar no fim do ano, paga seu tributo ao mestre inglês. Como prova pública exigida para a sua formatura, eles fazem uma montagem de Sonho de uma Noite de Verão, uma das mais importantes peças cômicas de Shakespeare. A direção é da professora Lílian Fleury Dória, que diz ter escolhido o texto de propósito, justamente para obrigar os alunos a um contato com os clássicos inevitáveis.

“Essa turma é muito heterogênea, temos alunos com gostos bastante diferentes, e no começo alguns se assustaram com a idéia de fazer Shakespeare”, comenta a diretora. No entanto, ela conta que os ensaios mostraram a qualidade do texto e acabaram vencendo toda e qualquer resistência dos aprendizes. “A tradução que usamos, da Bárbara Heliodora, funciona muito bem e isso ajudou a fazer com que todos tomassem gosto pelo espetáculo”, comenta.

A versão que irá ao palco a partir de hoje, no Cleon Jacques, é quase uma integral do texto shakespeariano. “Íamos fazer sem cortes e acabei tirando apenas alguns trechos curtos”, afirma a diretora. No entanto, a idéia não é fazer uma versão convencional. Pelo contrário: o grupo tenta passar longe do conservador.

Os figurinos, desenhados por Amábilis de Jesus, são um bom exemplo da mistura de tradição e modernidade imaginada para a montagem. Os personagens nobres, por exemplo, usam roupas de época apenas da cintura para cima. Para baixo, o figurino é composto por uma simples calça jeans. A sonoplastia, criada por Flávio Stein, segue o mesmo caminho. Mistura John Dowland, compositor contemporâneo de Shakesperare, com músicos eruditos do século 20, como Luciano Berio, com toques de Tom Waits. A música, aliás, é tocada ao vivo por dois alunos da FAP e uma violinista convidada.

O cenário – ou a quase ausência dele – também tem uma função semelhante na peça. Por um lado, o fundo de cena despojado, formado apenas por dois losangos que criam espaços para os atores, faz uma referência aos palcos nus dos tempos elizabetanos. Por outro lado, lembram algumas tendências do teatro moderno. “E isso ainda facilita a vida de quem tem pouco dinheiro para fazer a montagem”, brinca a diretora.

Serviço: Sonho de uma Noite de Verão. Teatro Cleon Jacques ( R. Mateus Leme, 4.700 – Parque São Lourenço), (41) 3016-4423. Texto de William Shakespeare. Direção de Lílian Fleury Dória. Com os alunos da FAP. De quinta-feira a sábado, às 21 horas; e domingo, às 20 horas. Entrada franca. Até 2 de julho.

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