"Eu estava na CBS com Ed Murrow em 1951", diz o veterano jornalista Howard Beale a seu chefe, em referência a um personagem célebre na imprensa dos EUA por enfrentar na tevê o então senador Joseph McCarthy – episódio recriado por Boa Noite e Boa Sorte (2005), de George Clooney.

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Beale quer dizer, com a lembrança, que participou da adolescência do telejornalismo americano e também de sua entrada na vida adulta. Mas, nos anos 70, isso representava, para muita gente, que ele era um dinossauro incapaz de se adaptar aos novos tempos em que jornalismo e entretenimento começavam a se confundir.

Com a progressiva perda de audiência do telejornal que apresenta, Beale é demitido.

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No primeiro dia de aviso prévio, abre o programa anunciando, ao vivo para todo o país, que vai estourar os miolos na frente das câmeras dali a uma semana.

Rede de Intrigas (1976) acompanha a tormenta que move sua emis­­sora a partir desse aviso tresloucado.

Interpretado com exuberância por Peter Finch (1912-1977), que ganhou um Oscar póstumo pelo papel, Beale é um personagem fictício que trabalha em uma também fictícia rede de tevê dos EUA, mas o drama insólito protagonizado por ele aponta para um jogo de forças muito concreto que apenas se esboçava nos anos 70 e que, desde então, só vem se aprofundando.

A contundência e o caráter premonitório do filme se devem ao lendário roteirista Paddy Chayefsky (1923-1981), que recebeu pelo trabalho seu terceiro Oscar – os anteriores foram por Marty (1955) e Hospital (1971).

Veterano profissional de televisão, Chayefsky cria uma demolidora peça de acusação da transformação da vida contemporânea em espetáculo, da banalização do jornalismo e do triunfo do cinismo sobre a integridade moral, na tevê e em outros quadrantes.

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Além do pobre Beale, a trama – dirigida por Sidney Lumet (Um Dia de Cão), outro veterano da tevê – tem como protagonistas o diretor de jornalismo da rede (William Holden) e uma inescrupulosa executiva em ascensão (Faye Dunaway).