Nove anos após lançar seu primeiro trabalho-solo, Paula Toller voltou e sem o Kid Abelha aos estúdios para gravar Sónós, com 14 faixas inéditas. "Não é uma ruptura com o Kid, estamos de férias prolongadas", conta Paula na entrevista coletiva on-line que deu à imprensa na última semana. Aliás, nada mais apropriado do que uma entrevista "virtual" para divulgar um álbum que foi todo idealizado a partir da troca de e-mails e conversas pela internet.
Paula usou e abusou da ferramenta para consolidar as parcerias de Sónós, que são várias. A começar pelo surfista-rocker Donavon Frankenreiter, com quem compôs a faixa "All Over", passando pelo folk-jazzy Jesse Harris (compositor de "Dont Know Why", cantada por Norah Jones), e Kevin Johansen, que assina a última faixa do disco, "Glass". "É que nem sexo: com cada um é uma coisa (diferente)", arrebata Paula sobre a forma como trabalha durante as parcerias.
"No meu primeiro disco-solo olhei muito para dentro, para meu próprio umbigo. Em Sónós, usei a internet para ultrapassar fronteiras", conta Paula, carioca, mas brasileira meio-de-qualquer-lugar como prefere se definir. Se a internet foi essencial na produção do álbum, a artista ainda vê com reservas a forma como a rede tem sido usada para divulgar música. "Estou do lado da música, vivo disso. Minha visão é tendenciosa: não acho justo baixar música de graça pela internet. Também adoraria baixar uma calça jeans", desabafa.
No disco, a artista flerta com o novo cool norte-americano, de nomes como Norah Jones e Jack Johnson, mas mantêm firme a sua identidade. Já nas letras, Paula dá passos mais longos, desnudando a sua intimidade em versos que falam de "sonhos, o nada, as horas, o amor, o outro, a angústia....", enfim, "o básico", como afirma o músico Fausto Fawcett no material de divulgação.
Das parcerias internacionais resultaram quatro músicas em que Paula canta em inglês. "Foi assim que eu me senti mais brasileira", confessa a cantora, que aproveitou a oportunidade para também compor no idioma de Shakespeare. "Cada língua tem o seu poder, é a poesia daquele lugar", explica.
Em "Tudo se Perdeu", a cantora faz uma tradução livre em cima da música e letra de "Vicious World", de Rufus Wain-wright (que acaba de lançar por aqui o ótimo Release the Stars). Paula, fã incondicional do universo "rufusiano", marcado por fossas, amores e desencontros, radicalizou na letra: "Caio na Maysa, na fossa em francês/Ninguém mais aguenta drumnbossa em inglês". Wainwright aprovou a letra em português e aceitou uma parceria dos direitos.
O filho Gabriel, homenageado no primeiro álbum-solo com a canção "Oito Anos", é agora tema da emocionante "Barcelona 16", sobre a emancipação do adolescente que começa a andar com seus próprios passos. "Antes de conseguir mostrar essa música eu chorei muuuuuito", conta Paula.
Parceiros de longa data também marcam presença no disco, como Dado Villa-Lobos (ex-Legião Urbana), que assina a composição de "Rústica". Paula aproveitou a sonoridade provocativa da música para escrever uma letra sobre a identidade da mulher: "Sonhei que era uma rosa/feminil e delicada/acordei viril/musculosa e inadequada."
A criação de Sónós começou durante a última turnê do Kid Abelha. Durante a semana, Paula trabalhava no álbum-solo e, nos fins de semana, se apresentava com o Kid. "Anoto frases, idéias, levo para casa e vou guardando, procurando em dicionários, rimas... o próprio processo de inspiração para mim é uma transpiração, estou sempre com o olhar atento", explica.
À pergunta "por que um disco-solo nesse momento?", Paula é enfática: "E por que não?". Este ano o Kid Abelha completa 25 anos e, para a cantora, é hora de dar uma respirada.
Turnê
Sónós está em fase de pré-estréia, com apresentações exclusivíssimas em lugares intimistas. Em agosto, mês em que completa inacreditáveis 45 anos, a cantora sai pela primeira vez em turnê sozinha, com estréia oficial em Porto Alegre, ainda sem data confirmada. Paula viajará com uma banda completamente nova, que participou da gravação do álbum, sob a direção do britânico Paul Ralphes.
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