| Foto: Annelize Tozetto/Divulgação

Aos 40 anos, João Mota (Eriberto Leão) é um cara obcecado com fervor adolescente pela figura de Jim Morrison (1943-1971), de quem acredita ser uma espécie de reencarnação. Em um momento de crise existencial, ele busca na obra do ídolo, morto aos 27 anos, algo que justifique o suicídio que está prestes a cometer.

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Com direção de Paulo de Moraes, Jim, apresentado no Guairão nos dias 1º e 2, mistura drama e musical para prestar tributo à figura do icônico vocalista do The Doors. Acompanhado de um trio afiado, Eriberto Leão interpreta ao vivo 11 canções do grupo, incluindo as históricas "Break on Through", "Light My Fire", "When the Music's Over" e "The End". Os números musicais costuram a narrativa, guiada por um longo diálogo filosófico-literário-existencial entre João e Jim, que depois ganham a companhia de uma personagem sensual e misteriosa, inspirada em Pamela Courson, viúva de Morrison (Renata Guida).

Exagerada em alguns momentos, a performance de Eriberto parece ter sido inspirada na fase mais alcoólica e tumultuada do vocalista. Como cantor, o ator não deu conta de levar ao palco as sutilezas da voz de Morrison, saindo-se melhor nas canções mais pesadas - a cena em que ele canta a capela deixa esse aspecto bastante evidente. Os trejeitos de Jim, no entanto, parecem ter sido ensaiados à exaustão por Eriberto, cuja forma física mais "avantajada" não decepcionou as fãs do vocalista, igualmente famoso por seu sex appeal.

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O texto de Walter Daguerre soa como uma colagem de poemas, aforismos, trechos de biografias do The Doors e frases de profundidade duvidosa ("quando você olha para o abismo, ele olha de volta para dentro de você" ou "subir uma montanha é difícil, mas descer é uma arte ainda mais complexa"). Somada a isso, a entonação um tanto declamatória de Eriberto e Renata e o cenário imóvel deixam o andamento cansativo da metade para o fim do espetáculo.

Ao fim da apresentação, o ator global fez um discurso inflamado sobre a "ditadura da impunidade" que também atinge o meio artístico. "Que as portas da percepção se abram e que a arte volte a ser o que era nos anos 60, porque hoje a arte está conivente com esse sistema corrupto", bradou Eriberto. Sobrou também para o grupo baiano Psirico, autor do hit "Lepo Lepo", cujos admiradores o ator definiu como "babacas". A plateia lotada do Guairão aplaudiu de pé.