Cena de "Acossado" de Godard, de 1960| Foto: Divulgação/Impéria Filmes

Um assassino serial matou várias pessoas em São Francisco, Califórnia, no final dos anos 60 e princípio dos 70. O número de vítimas oscila entre seis (o oficial, calculado pela polícia), 37 (reclamadas pelo criminoso) e 50 (estimativa extraoficial). Em cartas enviadas à imprensa e à polícia ele assinava: Zodíaco.

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O caso foi arquivado em um dos quatro departamentos de polícia envolvidos na investigação, mas segue aberto nos outros três. Hoje, quase 40 anos depois do serial killer ter disparado seus primeiros tiros – acredita-se que começou a agir na última semana de 1968 –, especialistas ainda se debruçam sobre as evidências, enquanto a história não deixa de fascinar qualquer um. Transformada em filme, ela se torna arrebatadora.

A melhor estréia do ano (até aqui) nos cinemas do Brasil, Zodíaco reconstitui, com detalhes perturbadores, os crimes e a investigação suscitada pelo assassino que enviava cartas criptografadas à imprensa e acabou inspirando Scorpio, o vilão de Perseguidor Implacável (1971), o primeiro Dirty Harry, detetive vivido por Clint Eastwood.

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Zodíaco tem como figura central Robert Graysmith, interpretado por Jake Gyllenhal. Na vida e nas telas, Graysmith é o autor do livro que deu origem ao filme – sua tradução acaba de sair no país pela editora Novo Conceito.

Quando o assassino serial enviou suas primeiras mensagens ao San Francisco Chronicle e a mais dois jornais importantes da região, Graysmith trabalhava na redação como cartunista de política, o que lhe dava o direito de acompanhar as reuniões de pauta (embora todos o ignorassem e, os que não o ignoravam, o chamavam de "retardado").

Escoteiro fascinado por enigmas, não demora a ficar fissurado pelas mensagens codificadas do Zodíaco. Porém, Graysmith só investe no caso quando os dois principais envolvidos desistem dele, o jornalista Paul Avery (Robert Downey Jr.) e o policial David Toschi (Mark Ruffalo). O primeiro, consumido pelo mistério que se mostra quase insolúvel, perde o emprego e se deixar desfigurar pelas drogas, enquanto o segundo tenta conviver com o que parece inevitável: Zodíaco nunca será pego.

E não foi.

O que talvez explique a disposição de especialistas em analisarem o caso até hoje nos EUA e fora deles.

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Graysmith, hoje um senhor de 64 anos, empreendeu uma investigação como se nada mais importasse. Ele não tolerava não saber a identidade do assassino. "A história do Zodíaco começou como uma obsessão e no fim virou um estudo sobre frustração", diz o escritor, em entrevista ao Caderno G, por e-mail. Na sua opinião, o assassino de São Francisco está ombro a ombro com outro serial killer lendário, Jack, o Estripador.

O diretor David Fincher conduz a narrativa como em um documentário. Apesar de ter 158 minutos de duração, não há um deles sobrando. Da mesma forma que não aparece nenhuma proeza de câmera que faça lembrar Clube da Luta (1999) ou Quarto do Pânico (2002), trabalhos anteriores do cineasta.

Chinatown (1974) quebrou padrões, revigorou o gênero policial no cinema e virou objeto de estudo e de culto. Não se surpreenda se Zodíaco fizer o mesmo. Agora. GGGGG