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Assim como o protagonista do seu novo livro, o autor Schertenleib migrou para a Irlanda em 1996 | Milena Schlösser/Divulgação
Assim como o protagonista do seu novo livro, o autor Schertenleib migrou para a Irlanda em 1996| Foto: Milena Schlösser/Divulgação
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A Orquestra da Chuva, de Hansjörg Schertenleib. Tradução de Marcelo Rondinelli. Grua, 248 págs., R$ 38,50.

Duas situações extremas são exploradas simultaneamente pelo suíço Hansjörg Schertenleib em A Orquestra da Chuva: a imigração e o divórcio. Separadas, ambas podem ser assimiladas com mais facilidade, mas juntas, são desoladoras. É o que o autor pretendeu demonstrar, com fortes características autobiográficas, na persona de Sean, o protagonista suíço que, tal como Schertenleib, muda-se para a Irlanda.

Abandonado pela esposa, Sean, um escritor de meia-idade, passa a viver os dias arrastando-se pelos parques e ruas de uma cidade irlandesa, quando conhece Niamh. Descrita ao começo como feia e desprovida de quaisquer atrativos, a senhora irlandesa alguns anos mais velha do que Sean decide contar-lhe a história de sua vida para que o escritor tome notas e escreva sobre ela. Interessado mais no exercício, que pode lhe propiciar algumas horas de distração, do que propriamente na figura misteriosa de Niamh, Sean passa a frequentar a casa dela diariamente, criando um vínculo com sua biografada ao mesmo tempo em que se distancia da própria vida.

É então que a narrativa passa a alternar momentos do presente com a sofrida saga de abandono, preconceito, rejeição e ingratidão de Niamh. Enquanto a primeira ruma na direção de uma provável e natural redenção, a segunda caminha no sentido inverso, afundando-se em complicações – Niamh, assim como o escritor, também foi abandonada quando morava em outro país, mas à sua dor somam-se outros fatores que diminuem, aos olhos do leitor, a situação de Sean.

É intrigante observar como cada um dos personagens lida com as situações que lhe são impostas. Enquanto Niamh suporta tudo com uma resignada obstinação, Sean busca de todos os meios superar a perda da esposa: primeiro pratica jogging pelos parques, depois passa a dirigir durante as madrugadas, volta a fumar haxixe e a ouvir reggae – a epígrafe de A Orquestra da Chuva é um trecho da canção "Could You Be Loved", de Bob Marley – e até frequenta um grupo de apoio a maridos abandonados. E talvez nada disso contribua mais para a superação do protagonista do que o simples e vagaroso passar do tempo, que, como diz o texto de apresentação, "passa devagar, mas passa".

Talvez esse seja o ponto central de A Orquestra da Chuva: o quanto somos coadjuvantes de nossa própria vida, e de como ela se resolve "sozinha", com o tempo. Talvez o autor estivesse mesmo impregnado com o espírito de Marley e seu "every little thing is gonna be alright" (algo como "tudo vai ficar bem", cantado em "Three Little Birds"), mesmo com o desfecho pouco confortante da história. A incapacidade de equiparar nossos esforços à ação dos dias e a redução das preocupações por comparação direta com problemas maiores de pessoas próximas tornam a própria vida, aos olhos de Schertenleib, relativa e semiautomática no que tange o amadurecimento. Não é à toa que a resposta frequente para situações aparentemente irremediáveis é um plácido e confiante "nada como um dia após o outro".

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