Peça adapta texto de Manoel Carlos Karam| Foto: Marcelo Almeida/Divulgação

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Duas Criaturas Gritando no Palco

Casa do Damasceno (R. Treze de Maio, 991 – Centro), (41) 9986-8153. Quarta a dom., às 20 h. R$ 20 e R$ 10. Classificação indicativa: livre. Até 2 de novembro.

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Ao som de "Solitary Man", de Johnny Cash, Duas Criaturas Gritando no Palco trouxe, para uma pequena plateia, uma vigorosa adaptação do texto homônimo do jornalista e dramaturgo paranaense Manoel Carlos Karam (1947-2007), um dos mais importantes nomes locais da chamada literatura de invenção. O texto é um dos sete de Meia Dúzia de Criaturas Gritando no Palco, editado recentemente pela Kafka Edições, que trouxe novamente à tona a obra dramatúrgica de um autor de relação intrínseca com o teatro – Karam, em 1973, criou o Grupo Margem, e durante a década de 1970 escreveu e dirigiu mais de vinte peças.

Dirigida por Gabriel Gorosito, Duas Criaturas..., a terceira montagem da Cia. Cambutadefedapada, é dessas coisas que fazem o espectador sair até meio desnorteado e se perguntando se gostou ou não gostou – o que não é exatamente ruim. Por quase uma hora, Moa Leal e Sidy Correa fundiram autor e o seu personagem numa história próxima ao teatro do absurdo de Ionesco e Beckett, em que a linearidade é o de menos e o importante é provocar.

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"Beber com sofreguidão... Ouvir você dizer ‘beber com sofreguidão’". Este tipo de devaneio, próximo ao que temos de neurótico, permeou a montagem de modo geral, que foi bem honesta com o texto de Karam, mudando apenas uma e outra situação – principalmente o final, que caminha na peça para outro entendimento, o que não se pode tratar como corrupção. Dá até para dizer que a peça resolve melhor o dilema existencial.

"A linguagem do Karam não é muito simples. Seu teatro oferece diversas possibilidades e vai para muitos caminhos. É uma coisa bem provocadora", afirma Sidy. De fato, Duas Criaturas... é tudo menos monótono. Das conversas malucas às situações de confronto, o ponto alto fica por conta da intensidade da dupla de protagonistas, que confere ao material um revestimento robusto, capaz de justificar as quebras narrativas todas.

Há de ressaltar o grande trabalho de iluminação de Anry Aider, que conhece bem o universo do autor de Picando uma Cebola em Chamas e Ovos Não Têm Janela. Vale a pena, mas não espere calmarias.