Estante
O Castelo dos Pirineus é o 17º livro de Jostein Gaarder. Confira as obras mais relevantes do autor, todas disponíveis no Brasil:
O Dia do Curinga (1990)
O Mundo de Sofia (1991)
Mistério de Natal (1992)
Através do Espelho (1993)
Ei! Tem Alguém Aí? (1996)
O Vendedor de Histórias (2001)
A Garota das Laranjas (2003)
Opinião - Cristiano Castilho, repórter da Gazeta do Povo
Um romance equilibrado e oportuno para adultos Jostein Gaarder se utiliza de elementos quase banais hoje o e-mail em sua função comunicativa primordial, por exemplo , como ponto de partida para diálogos mais complexos que envolvem conceitos junguianos, kardecistas, cristãos e mesas de apostas em Monte Carlo. Por isso, O Castelo nos Pirineus é envolvente, engraçado, atual e discutível, no melhor sentido da palavra.
É fácil se identificar com algum dos dois personagens se você já sabe se e no que crê. Isso torna a leitura também divertida, já que torcemos o nariz para a opinião contrária e batemos palmas em segredo para algumas passagens com as quais concordamos.
Além do engenho para discutir filosofia e religião, a obra apresenta, em seu final, duas surpresas acachapantes. Uma delas explica o fim do relacionamento entre o casal que se conheceu há 30 anos e outra fecha o livro com classe, embora de maneira triste e desértica. GGG1/2
"Não é acidental escrever sobre duas pessoas que têm mais ou menos a mesma idade que eu. Acho que isso é um sinal de experiência", disse Jostein Gaarder em entrevista por telefone à Gazeta do Povo, batendo os queixos devido aos dois graus que fazia no verão de Oslo, capital da Noruega. Ao se expor e revelar indagações pessoais ou situações mal resolvidas, o escritor, autor de O Mundo de Sofia, se valeu de uma fórmula corajosa e quase sempre certeira para escrever O Castelo nos Pirineus, seu mais novo livro. O norueguês participa de um bate-papo e de uma sessão de autógrafos neste domingo (15), às 17 horas, nas Livrarias Curitiba do ParkShopping Barigüi.
A informação de que haverá tradução simultânea durante o encontro também é importante. "Os personagens do livro são diferentes de mim, mas ao mesmo tempo compartilham experiências comigo", conta o escritor, mergulhado em seu sotaque bastante acentuado. O mote do livro é interessantíssimo.
Um casal de antigos namorados se reencontra depois de 30 anos. Exatamente no mesmo lugar em que se conheceram e em que passaram vários momentos inesquecíveis juntos. A separação foi estranha. Há uma "mulher amora" envolvida e um episódio sinistro, sabe-se depois, pôs o relacionamento à prova.
Steinn, meteorologista e físico formado, crê na razão: o reencontro entre eles é tão possível quanto a queda de um lápis no chão. Solrun, professora e tradutora, é espiritualizada. É afeita ao ocultismo, acredita nas chamadas supercoincidências e nas sincronicidade, as "coincidências não casuais" de Jung: o episódio não pode ser ignorado e demonstra que eles ainda são ligados de alguma forma.
O casal então propõe uma troca de e-mails para discutir o reencontro. A condição é que sejam apagadas as mensagens enviadas afim de não fazer do episódio um motivo para relembrar do passado. Então filosofia, internet e aspectos do próprio relacionamento humano são discutidos em mensagens que também descrevem as belas paisagens dos fiordes noruegueses.
"Acredito absolutamente que as pessoas podem ser divididas em crentes no que quer que seja , ou não. Mesmo assim, elas podem viver juntas sem problemas. Na história, o homem abre sua cabeça para a mulher e vice-versa", diz Gaarder. O norueguês, 58 anos, confessa que se sente mais perto de Steinn nessa situação. "Não nego o que pensa Solrun, mas acreditar na ciência é mais natural para mim."
Reconhecido por discutir filosofia em livros com linguagem cativante o maior exemplo é O Mundo de Sofia, que até virou filme , Gaarder acrescenta à essa discussão a efemeridade da internet. A velocidade dos nossos tempos, enfim.
"Sou usuário do computador desde 1984 e guardo nele quase todas as coisas que escrevi na vida. Mas hoje estamos vivendo um momento de revolução social. Há e-mails, smartphones, redes sociais que nos exigem o tempo todo. O problema é que nossas memórias estão fora disso. Esse é o grande desafio que a tecnologia nos impõe", filosofa o norueguês. "As pessoas estão conectadas virtualmente o tempo todo. Mas a ligação física está virando uma metáfora disso".
A religião é abordada por Solrun em alguns e-mails ela escreve mais do que ele e, ao que parece, tem menos paciência para esperar as respostas. O Livro dos Espíritos, de Alan Kardec, é furtado de um hotel, por exemplo. Ambos os personagens, aliás, leem muito.
"O Livro dos Espíritos vendeu muito no Brasil, não é?", pergunta Gaarder. Este é um grande guia para os espíritas, virou um fenômeno e influencia muita gente. Eu já li, e achei fantástico", conta o norueguês.
No Brasil, aliás, Gaarder já esteve por duas vezes. Conheceu São Paulo, Rio de Janeiro e Passo Fundo. Sobre Curitiba, talvez o escritor tenha "dado um google", ironicamente. "Só sei que fica a mil metros do mar, é uma cidade fria e economicamente importante."
Serviço:
Jostein Gaarder - Lançamento do livro O Castelo nos Pirineus. Livrarias Curitiba Megastore ParkShopping Barigüi (R. Pedro Viriato Parigot de Souza, 600, lj. T17), (41) 3219-5550. Hoje, às 17 horas.
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