contatos
Para achar os fac-símiles é preciso ter os contatos certos. Tal qual os heróis dos quadrinhos, o Libertador não revela sua identidade secreta.
“Aquele balançador de teias esquisito é a verdadeira ameaça à segurança pública!”, reclama o sempre mal-humorado J.J.Jameson em “O Espantoso Homem-Aranha”. Esta é uma das muitas edições que jamais saíram no Brasil, mas que agora ganham versão em português pelas mãos de um grupo secreto de fã de quadrinhos que cansaram de esperar as editoras brasileiras publicarem todas as histórias Marvel e DC no País.
A dura realidade do leitor brasileiro é que publishers locais perdem material por diversas razões. Ora o editor acha a história ruim, ora é preciso acelerar a cronologia local, ora é falta de espaço nas revistas, que saem resumidas por aqui. Assim, restou aos próprios leitores traduzirem essas edições suprimidas das cronologias.
Foi andando por sebos e revistarias de São Paulo que a reportagem achou a mais nova mania dos quadrinistas: o fac-símile, edição e impressão extraoficial de revistas que não foram publicadas por aqui. Além delas, os responsáveis pelo trabalho ainda resgatam edições raras no País, especialmente dos materiais lançados pelas editoras Ebal, RGE, Bloch e Abril.
Trabalho artesanal
“É algo feito de fã para fã, de maneira artesanal, e não teria como atender uma demanda grande”, conta Peter, codinome usado por um dos curadores. Ele não se identifica por medo de ser perseguido por pirataria, embora entenda que a luta é muito mais de libertação do domínio editorial, uma vez que muitas dessas revistas são solenemente ignoradas.
A coqueluche são as edições promocionais associadas a produtos ou campanhas que jamais saíram no Brasil. “São revistas totalmente inéditas, dificilmente sairiam aqui. O mais legal é que, como foram feitas na Época de Ouro da Marvel, temos grandes desenhistas e roteiristas nesses projetos”, se empolga.
Claro que a livre tradução permite algumas adaptações. “The Amazing Spider-Man” virou “O Espantoso Homem-Aranha” e não “O Espetacular Homem-Aranha”, como nos acostumamos a ver nas bancas. As traduções são colaborativas e nem sempre preservam o que seriam as gírias da época, embora haja esforço para tal.
Além das inéditas, os fac-símiles são a saída para completar as coleções de quem não se importa em possuir cópias dos originais da época, que podem chegar a valores astronômicos, ou não se contenta com exemplares danificados com décadas de vida.
Identidade secreta
“Os fac-símiles servem mais para suprir a necessidade na falta dos originais ou mesmo quando os mesmo se encontram em péssimo estado”, diz o editor. “Geralmente a procura é maior pelo material da Abril, RGE e Bloch.” O cuidado é tanto que até mesmo as propagandas da época são reproduzidas com fidelidade. Aqui, cabe um alerta: na hora de comprar uma edição rara, atenção para não pagar mais por uma réplica. A fidelidade é grande, mas evidentemente uma edição com mais de 40 anos não pode aparentar ser nova. O “Capitão América” número 1 da Abril, de 1979, pode sair por até R$ 1.000 em sua versão original. Um fac-símile, porém, custa R$ 15, preço médio do mercado.
Esse valor é quase o dobro do valor de um exemplar atual feito pela Panini, detentora dos direitos Marvel e DC no Brasil. Os fac-símiles podem ser feitos em formatinho ou formato americano, conforme a encomenda. E para achá-los é preciso ser um pouco rato de internet e ter os contatos certos. Tal qual os heróis dos quadrinhos, o Libertador do Fac-Símile não revela sua identidade secreta.
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