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O grande escritor é aquele que consegue compreender o mundo de um jeito que as outras pessoas não conseguem. Mais do que isso, é alguém capaz de pôr isso em palavras. Ninguém fazia isso melhor do que William Shakespeare. Ninguém compreendeu a paixão melhor do que ele, e por isso Romeu e Julieta é o que é. Ninguém entendeu o ciúme como ele, e por isso Otelo é insuperável. Ninguém viu a ambição desmedida do ser humano como ele foi capaz. E por isso Macbeth continua sendo importante 400 anos depois de sua estréia.

"Macbeth mata para ser rei, mata para continuar rei, mata para se perpetuar como rei", afira o diretor Edson Bueno, que depois de duas décadas de carreira decidiu assumir pela primeira vez a tarefa de dirigir uma peça de Shakespeare. "Nos ensaios, eu fico pensando que já deveria ter feito antes. Mas às vezes é tão complexo que eu penso que não deveria estar fazendo nem esse", brinca o diretor, vencedor do Gralha Azul de 2005 com a peça Capitu Memória Editada.

A trama de Macbeth começa quando o personagem central encontra três bruxas. Elas dizem que ele será o próximo rei. Macbeth, um dos mais importantes homens na corte, morde a isca. Instigado por sua ambiciosa mulher, mata o rei e assume seu lugar. A partir daí, é levado cada vez mais para o fundo do poço, promovendo verdadeiras chacinas para evitar a perda de poder. A peça ganha tons sobrenaturais, não só pela presença das bruxas como pelos fantasmas que voltam para assombrar Macbeth e sua mulher.

Na versão do Grupo Delírio, que estréia hoje, a peça ganha linguagem de história em quadrinhos. "Tentei achar uma forma de montar o texto sem que eu me sentisse traindo Shakespeare e sem cair em uma modernosidade", afirma o diretor, que já usou a técnica dos quadrinhos em outros espetáculos como o clássico New York por Will Eisner e, o mais recente, Metamorphosis. "Os quadrinhos são ágeis, têm um visual empolgante. Não dirigiria uma peça parada", conta.

Para ele, a linguagem de HQ aparece na divisão em imagens separadas. Cria-se um quadro e logo em seguida uma outra imagem supera aquela, como se fosse um novo quadrinho. "Além disso, os quadrinhos em preto e branco são fascinantes e estamos trabalhando com esse mesmo visual", afirma. O iluminador Beto Bruel e o cenógrafo Gelson Amaral, ambos vencedores do Prêmio Shell, também foram encarregados de imitar os comics e o formato de "teatro pavilhão". O cenário é basicamente constituído de uma série de forcas contra uma parede de pedras.

Apesar de já ter mais de 20 montagens na carreira, Bueno diz que está ansioso para a estréia de hoje à noite. "Sempre dá uma tremedeira, não tem jeito. Se o público gostar, passa", diz. E de qualquer jeito, não deixa de ser um início. Afinal, o primeiro Shakespeare a gente nunca esquece.

Serviço: Macbeth. Teatro Edson Bueno (Gal. Pinheiro Lima, Pça. Tiradentes), (41) 3015-8705. Texto de William Shakespeare. Direção de Edson Bueno. Com Tiago Luz, Maíra Weber, Daniel Siwek. De quinta-feira a sábado, às 20 horas, e domingo, às 19 horas. Ingressos a R$ 14 e R$ 7 (meia).

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