Morte de Cássia Eller, uma das mais importantes intérpretes do rock brasileiro, completa dez anos na data de hoje. Lançamentos em homenagem à cantora estão previstos para o ano que vem| Foto: Divulgação

Obra

Muito estilo

Também seguindo uma tradição na música feminina brasileira, Cássia Eller preferia interpretar a compor. Gravou apenas três canções suas: "Lullaby", "Eles" (dela com Luiz Pinheiro e Tavinho Fialho, pai do filho Chicão) e "O Marginal" (com Hermelino Neder, Luiz Pinheiro e Zé Marcos). Seu negócio era mesmo interpretar os sucessos que ouvia desde pequena, com a mãe, Nanci, amante compulsiva de Beatles, Elvis Presley e que chegou a gravar com a filha "Pedra Gigante" (de Gilberto Gil e Bené Fonteles), para o álbum Com Você...Meu Mundo Ficaria Completo. Veja os principais discos lançados com a voz de Cássia:

- Cássia Eller (1990)

- O Marginal (1992)

- Cássia Eller (1994)

- Cássia Eller ao Vivo (1996)

- Veneno AntiMonotonia (1997)

- Veneno Vivo (1998)

- Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo (1999)

- Acústico MTV (2001)

- Dez de Dezembro (2002, póstumo)

- Rock in Rio ao Vivo (2006)

CARREGANDO :)

Há dez anos a música brasileira perdia prematuramente mais uma voz feminina. Cássia Eller (1962-2001) estava no auge da carreira, a dois dias de se apresentar num grande show de réveillon no Rio de Janeiro, quando sofreu um enfarte, abandonando fãs num desconsolo que já havia acometido os de Dolores Duran (1958), Sylvinha Telles (1966), Maysa (1977), Elis Regina (1982) e Nara Leão (1989).

VÍDEO: Assista a trechos de entrevistas da cantora

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Sucessos como "Malandragem", de Cazuza e Frejat, "O Segundo Sol", de Nando Reis, e internacionais, como "Eleanor Rigby", dos Beatles, e "Je Ne Regrette Rien", de Edith Piaf haviam ganhado as rádios nos anos anteriores. Cássia já abrira um show dos Rolling Stones e fora a atração nacional mais importante do Rock in Rio daquele ano de 2001.

No ensaio biográfico Cássia Eller – Canção na Voz do Fogo (Escrituras, 2002), a pesquisadora Beatriz Helena Ramos Amaral afirma que a cantora "representa o ponto máximo atingido – em se tratando de rock, no Brasil – por uma intérprete". Muitos atribuem esse sucesso à boa escolha de parceiros, como Nando Reis, com quem gravou o álbum Acústico MTV, com 1,1 milhão de cópias vendidas. "Sou muito intensa quando estou cantando, e ele [Nando Reis] me ensina a ser mais contida", disse, na época, à imprensa.

Fica a dúvida se suas escolhas foram assim tão planejadas. A História de Cássia Eller – Apenas Uma Garotinha (Planeta, 2005), de Ana Claudia Landi e Eduardo Belo, revela uma artista extremamente introspectiva – apesar da atitude rock-and-roll no palco – e sem jeito para negócios. Nas entrevistas que concedeu (assista a trechos no site), Cássia sempre dizia que simplesmente gostava de cantar, num muxoxo sobre o futuro que fazia parecer que ela era arrastada pela carreira, sem uma ambição autopromotora – pelo contrário, no início, na cena rock de Brasília, recusava convites para cantar em lugares novos. Depois voltava atrás, por insistência de "Banana", sua namorada na época.

Impulsionadores

Outros parceiros que a impulsionaram foram os músicos de sua própria banda, que prezava muito – sofria nos tempos de vacas magras, quando precisava mandar alguém embora. Uma das integrantes a acompanhou até a clínica onde viria a falecer, naquele 29 de dezembro de 2001: Elaine Moreira, a Lanlan, com quem manteve um caso – apesar de nunca ter deixado Maria Eugênia Vieira Martins, com quem passou seus últimos 14 anos.

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Outro impulsionador foi o filho, nascido em 1993. Francisco, o "Chicão", lá pelas tantas passou a reclamar que a mãe cantava "gritado" demais. Veio então Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo, em 1999, álbum de inéditas produzido por Nando Reis aberto com o sucesso melódico "Segundo Sol". Na capa, ela aparece com um aplique que a deixou estranhamente feminina. "Botaram isso aí na minha cabeça", disse ao músico e apresentador João Gordo. Mas, durante a entrevista concedida ao programa Gordo a Go-go, na MTV, ela reclama, embevecida, que "agora o filho da p** [Chicão] só ouve Prodigy e Nirvana".

A emissora, que foi palco da reviravolta na carreira de Cássia, com a gravação do acústico em março de 2001, está exibindo hoje, desde as 7 horas, uma programação de 24 horas com entrevistas exclusivas, shows marcantes e depoimentos de amigos da cantora.

Para o ano que vem, estão no forno um documentário que mostra os bastidores dos ensaios para o Acústico MTV, projeto de Paulo Henrique Fontenelle. Além disso, um livro-disco está sendo produzido por Nando Reis, e a gravadora de Cássia, Universal, prepara o DVD A Luz do Solo, projeto de shows intimistas com grandes nomes da MPB, gravado no Citibank Hall do Rio, em 2001.

Serviço

Especial MTV – 10 Anos sem Cássia Eller. MTV. Dia 29, a partir das 7 horas. Especial com 24 horas de duração.

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