Rio de Janeiro (Folhapress) O garimpador de raridades Charles Gavin passou 2005 em branco: não pôs nas lojas nenhum CD desengavetado dos arquivos das gravadoras. A aposta das empresas nos DVDs era o motivo, segundo ele.
Já 2006, que começa agora para a indústria fonográfica, acrescenta 25 novos títulos aos 350 que o baterista dos Titãs redescobriu entre 99 e 2004. O lote é resultado de uma investigação feita por Gavin, no baú de LPs da Som Livre, a gravadora do sistema Globo, também proprietária da RGE.
Predominam na lista os discos de samba-jazz, um dos gêneros preferidos do baterista. Mas ele não radicalizou na idiossincrasia. Na diversidade dos lançamentos cabem o soul sublime de Tim Maia, o primeiro e ousado disco de Alceu Valença, o samba tradicional do conjunto A Voz do Morro, as trilhas sonoras infantis dos programas Vila Sésamo e Sítio do Picapau Amarelo e muitas, muitas experimentações.
Uma a se destacar é Nave Maria, de Tom Zé. Embora nas últimas duas décadas, após a redescoberta do baiano de Irará liderada pelo talking head David Byrne, os antigos discos de Tom Zé têm pululado em CD, essa viagem autoral estava esquecida.
O LP, o único do compositor na RGE, foi produzido seis anos depois do anterior e seis antes do seguinte. Ou seja, caiu em um vácuo imerecido.
Além de se deliciar com "bugue-sambas" como a faixa-título e "Mamar no Mundo", o ouvinte pode perceber em "Su Su Menino Mandú" sons que foram belamente recuperados em Parabelo, trilha que Tom Zé fez (como José Miguel Wisnik) para o grupo Corpo em 97.
Há experimentações que viraram cult nas mãos de DJs e produtores estrangeiros, mas que só agora ganharam a graça de sair em CD oficialmente, porque versões piratas circulam por aí.
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