Dantas e Renata: atuações intensas| Foto: Divulgação
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Montar Shakespeare em pleno século 21 é sempre um desafio. Embora a obra do bardo seja atemporal e sua universalidade, inquestionável, há sempre o risco de a montagem sucumbir ao peso dos séculos e, mais ainda, da exagerada reverência com que o autor costuma ser tratado. Não é o caso de Macbeth, espetáculo com direção de Aderbal Freire-Filho, apresentado terça-feira e ontem dentro da Mostra Contemporânea do Festival de Curitiba e muito aplaudido pelo público.

Depois de ter encarado – e até certo ponto vencido – o desafio de levar Hamlet ao palco com o baiano Wagner Moura no papel do príncipe dinamarquês, Freire-Filho agora recorre à vasta experiência teatral de Daniel Dantas, que vive com gosto o general do exército escocês que escuta profecias de três bruxas que o proclamam futuro rei da Escócia. Essa possibilidade desencadeira no personagem um surto megalomaníaco e de ambição desmedida. E Dantas chega a ser assustador em cena.

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O diretor também foi beber do misto de força e vulnerabilidade de Renata Sorrah, para dar vida a um dos papéis femininos mais desafiadores criados por Shakespeare. Manipuladora, gananciosa e limítrofe entre a sanidade e a loucura, a Lady Macbeth de Renata parece menos vilanesca do que de costume e mais entregue a sua devoção pelo marido. Desse sentimento parece vir seus atos tão cruéis quanto sem escrúpulos.

Um pouco prejudicada pela imensidão do Guairão, grande demais para um texto que pede muita atenção e empenho intelectual do público, Macbeth é um espetáculo bastante digno, escorado por boas soluções cênicas e uma direção de arte sombria, em sintonia com o tom do texto.