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"Às vezes as guitarras desafinam. É aí que as coisas começar a ficar lindas". Thurston Moore foi brincalhão em uma das várias trocas de guitarras - cada qual com sua própria afinação, como manda a cartilha do Sonic Youth - promovidas pelos integrantes do grupo nova-iorquino durante show realizado na noite de sábado (30), no Parc del Fòrum, em Barcelona.

Sem querer, porém, o grandalhão resumia um dos aspectos mais marcantes do agora novamente quinteto (com a consolidação do ex-Pavement Mark Ibold no baixo), do qual é um dos vocalistas e guitarristas desde sua fundação, em 1981.

De fato, a fórmula inconfundível criada pela banda há quase três décadas segue basicamente a mesma – guitarras com afinações alternativas e a manipulação de ruídos a favor de sólidas canções – e se atualiza na geração da beleza "desafinada" à qual Moore se referia.

Escalados como uma das atrações principais do Primavera Sound, os ícones do indie rock não se preocuparam em condensar nenhuma espécie de greatest hits na duração relativamente curta do concerto (pouco mais de uma hora).

A única canção mais conhecida executada foi a dançante Bull in the heather, do disco Experimental jet set, trash & no star (1994), no bis. Mais da metade do repertório de quinze canções foi extraído de The eternal, álbum que o Sonic Youth lança precisamente no próximo dia 9, o que confirma não apenas que possui material fresco com fôlego para continuar encantando os fãs, como também sua recusa em se acomodar após mais de quinze discos, sem contar os muitos projetos paralelos e lançamentos extra-oficiais.

Não foi uma apresentação bombástica como a de 2007, no mesmo festival, quando a banda topou o convite para reler na íntegra seu clássico Daydream nation, de 1988, mas ainda assim sobrou vigor no palco principal do Primavera Sound.

Por sinal, a trupe norte-americana deve ter gostado da idéia de recuperar a bolacha de 21 anos atrás, já que além de The eternal, Daydream… foi o que mais compareceu no repertório, com a frenética Cross the breeze e a climática The sprawl. Ambas cantadas por uma inspirada Kim Gordon, ainda bela, estilosa, inimitável do alto de seus 56 anos. E, claro, mais esposa de Thurston Moore do que nunca.

A outra pérola desenterrada do cultuado disco foi Hey Joni, na voz de Lee Ranaldo, que com What we know, outra representante de The eternal no setlist, mantém sua tradição de sempre emplacar pelo menos uma grande canção por disco. O grisalho Ranaldo, aliás, se diverte como nunca com o reforço de Mark Ibold e o consequente deslocamento de Gordon para a guitarra. Assim lhe sobra tempo para se debruçar sobre seus inúmeros pedais de efeitos guitarrísticos e, com as mãos, pilotar algumas das cacofonias que mais enchem o som do Sonic Youth 2009.

Atrás de Ranaldo, o baterista Steve Shelley contribuía com sua parcela, igualmente determinante no DNA do combo: as batidas precisas, explosivas e sem excessos de virtuosismo fora de hora.

Saídas do forno

Das outras canções novas, se sobressaíram também a nervosa Sacred trickster, segunda do show, com Kim ao microfone; Antenna e Leaky lifeboat, esta última dedicada ao poeta beatnik Gregory Corso, ambas pontuadas pelos vocais melódicos característicos de Thurston; e a empolgante Anti-orgasm, com raro dueto de vozes do casal.

Em meio à tabela entre o mais reverenciado e o mais novo dos trabalhos Sônicos, restou espaço para amostras de alguns outros álbuns espalhados pela longa trajetória discográfica iniciada em 1983 com Confusion is Sex. A mais antiga a comparecer foi Tom violence, de EVOL (1986), mas também houve tempo para Pink steam, de Rather ripped (2006), o mais recente antes de The eternal.

E após uns bons minutos da tradicional massa de distorções que a banda utiliza para encerrar suas apresentações, o público se decepcionou quando a produção do festival acendeu as luzes. Ainda não estava preparado para o fim.

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