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A banda dos tradicionalistas bole-bolenses é comandada pelo maestro Cursino (André Abujamra). | Rafael Sorin/TV Globo
A banda dos tradicionalistas bole-bolenses é comandada pelo maestro Cursino (André Abujamra).| Foto: Rafael Sorin/TV Globo
  • Os saramandistas têm o maestro Totó (Zéu Britto, no centro) no comando.

Por que a trilha de abertura da nova versão de Saramandaia não é "Pavão Misterioso", do cantor Ednar­­do, como na novela original? Assim devem estar se perguntando os saudosistas da obra de Dias Gomes, exibida em 1976. Mas o autor do remake, Ricardo Linhares, trata de desfazer logo o mistério. "‘Pavão Misterioso’ é um ícone. Marcou a geração que assistiu à primeira versão, na qual me incluo. Eu adoro, é forte e poética. Mas está mais ligada ao João Gibão (personagem de Sérgio Guizé) do que à história nova que estou contando. Encaixa-se perfeitamente com o tema do personagem. Não está mais na abertura porque não representa a novela como um todo."

Para não assustar tanto os mais nostálgicos, Linhares diz que especificou no texto que a música tinha de ser tocada logo na primeira cena, durante o voo do pássaro: "Para as pessoas viajarem na lembrança do pratrasmente. Há um público saudoso desta canção. Para agradá-lo, ela permanece na trilha. E está presente em toda a trama, pontuando a trajetória do Gibão. A música será fundamental para criar o clima de magia quando o personagem abrir as asas e voar pela primeira vez: na metade na novela, não mais na última cena, como antes".

A missão de compor uma trilha original para a abertura caiu no colo do compositor e maestro Sergio Saraceni, produtor musical da TV Globo, que acionou uma trupe de 18 músicos para gravá-la.

"Já estávamos compondo músicas instrumentais para a novela com uma orquestra de 36 músicos quando Linhares encomendou mais uma, para a abertura. Pensei em fazer algo sem nenhum instrumento de harmonia, como piano e violão, nem nada eletrônico: apenas sopro e percussão. Depois, tive a ideia de acrescentar cânticos indígenas, pois tinham me pedido uma referência bem brasileira, mas não própria de determinada região do país", conta Saraceni.

Maestros

A composição agradou em cheio, e não tardou a ser aprovada pela equipe da novela e pelo diretor musical da emissora, Mariozinho Rocha. E os músicos – entre eles, nomes como o do multi-instrumentista Rodrigo Sha, o saxofonista Zé Canuto e Tim Malick, da Orquestra Voadora – acabaram saindo do estúdio com roteiros em mãos: foram contratados para atuar na novela como membros das bandas de Saramandaia – a Lira Euterpiana, comandada pelo maestro saramandista Totó (Zéu Britto), e a Filarmônica Bolebolense, regida pelo maestro Cursino (André Abujamra). Apesar de discordarem politicamente, Totó e Cursino dividem o comando de uma barbearia e lan house.

"As bandas e os maestros são criações do Dias Gomes para mostrar que a rivalidade entre saramandistas e bolebolenses se estende até o campo musical. Eles pontuam comicamente a ação, estão sempre brigando no disputismo musical e político. Foi uma ótima ideia do Fabrício [Mamberti, diretor] escalar dois atores que são músicos para dar mais credibilidade aos papéis", comenta Linhares.

Saraceni observa que o uso de um contingente tão grande de músicos como atores é inédito na dramaturgia brasileira. E fala isso com propriedade: faz trilhas de filmes há 37 anos e, de novelas, há 36.

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