Se a tendência para a música instrumental brasileira é a absorção de elementos regionais, o desapego ao jazz também fenômeno de música genuína, sem voz e a recriação do choro e da canção, Léa Freire é um exemplo vivo da cena que emerge. Aos acordes de seu piano erudito, primeiro instrumento, misturou o violão popular que aprendeu no Clam Centro Livre de Aprendizagem Musical, dirigido pelo Zimbo Trio. A paulista multiinstrumentista toca com grupos instrumentais de jazz, bossa, funk, e "um pouco de tudo", tentando dar identidade à sua criação.
"O que me fascina na música instrumental é a riqueza das harmonias e das melodias, aliado ao fato de que ela mexe principalmente com nossa reflexão. Acontece algo como um 'coletivo criativo' impressionante", disse.
O catálogo de músicos de qualidade atuando em diversas partes do Brasil é reforçado por Léa. Assim como a gama de artistas brasileiros reconhecidos fora do país. "Existem músicos de excelente qualidade espalhados por aqui que sempre tocam fora do país. O nosso maior desafio é criar novos espaços para demonstrar o trabalho", comentou a música, que flertou com o rock-and-roll, o jazz e o choro antes de sua nova proposta: aliar o erudito às expressões populares, dando sotaque brasileiro a composições que podem ser universais.
Léa teve participações em mais de vinte CDs. Todos eles gravados pelo seu selo Maritaca www.maritaca.art.br , especializado em música instrumental brasileira. Atualmente, 35 artistas têm contrato com a gravadora. Filó Machado, Fabio Torres, Edu Ribeiro e Sílvia Góes estão entre eles, formando uma espécie de redoma protegida pela própria arte que constroem. "Enfrentamos dificuldades pela falta de uma política cultural. Os governantes parecem ter abdicado de suas responsabilidades em relação à cultura, transferindo-a para departamentos de marketing de empresas que, naturalmente, não coloca a área como principal ponto de interesse", disse.
Apesar das mais de três dezenas de artistas catalogados, os locais para apresentações também são restritos, seja por falta de espaço ou de público à altura do que é produzido. "Precisamos ter difusão, espaço na mídia. Fora isso, a formação de platéia para coisas mais elaboradas. Tudo isso se dá com uma simples educação musical. Nós precisamos urgentemente aumentar a auto-estima do brasileiro, valorizar as belezas daqui, que são muitas."
Ano passado Léa Freire lançou Cartas Brasileiras, seu último álbum, em parceria com o também flautista e saxofonista Téo Cardoso.
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