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A paulistana Negra Li ficou conhecida do grande público em 2000, graças a uma tímida participação na canção "Não É Sério", presente no especial Acústico MTV – Charlie Brown Jr. Antes disso, ela já reinava no meio underground do rap paulistano, sob o comando dos backing vocals nas rimas do coletivo RZO (Rapaziada Zona Oeste).

Ao lado do parceiro Helião, que também integrava o grupo, Negra Li lançou, em 2004, o álbum Guerreiro, Guerreira, pela multinacional Universal Music, o que, apesar de ter gerado críticas dos colegas mais ortodoxos da periferia, proporcionou a ela um treinamento intensivo de experiência de palco e relacionamento com o público, sem falar no aprimoramento de seus dotes vocais. Era o que faltava para Liliane de Carvalho (como consta em sua carteira de identidade) aceitar o convite que vinha recebendo há mais de dois anos: lançar um trabalho-solo.

"Fiquei fugindo esse tempo todo. Sentia que ainda não estava preparada e além disso, estava acostumada a ser mimada pelos meninos do RZO. Depois da dupla com o Helião, senti que houve um crescimento", explica a cantora, em entrevista ao Caderno G.

A autoconfiança adquirida ao longo dos dois anos de shows realizados ao lado de Helião ao redor do país fica explícita em Negra Livre, trabalho de estréia de Negra Li como cantora. De acordo com Liliane, sua idéia original era gravar um álbum de bossa nova, projeto que a levou à gravadora graças à influência de seus estudos musicais. "Meu professor levava músicas da Elis Regina e Leny Andrade para as aulas. Eu tentava cantá-las, mas sentia muita dificuldade. Após um tempo comecei a amar e decidi que era isso que queria gravar", conta. Mas, suas raízes falaram mais forte. Para compor o repertório do álbum, Negra Li resgatou canções que havia escrito na época do RZO e o produtor inglês Paul Ralphes, responsável pelo disco, fez questão de mostrar a ela como o rap faz parte de seu histórico musical. "Abri espaço para o rap, mas não quero ficar atrelada a ele. Sou cantora, não rapper", avisa.

Assim sendo, Negra Livre traz uma combinação de MPB, rap, pop e hip hop, ritmos em que a voz de Negra Li brilha com a mesma intensidade. Ao lado dos colegas da banda de hip hop carioca Dughettu – Marquinho "O Sócio" e Marcello Red –, a cantora dá o recado logo na faixa de abertura, "Ninguém Pode me Impedir": "Pra mim é isso que importa/Nunca me deixar levar/E não vou mais me iludir/Sei o que quero para mim/Vou cantar, sonhar, brilhar/Porque tentar não custa nada". O flerte com a MPB dá o tom da suingada "Você Vai Estar na Minha", primeiro single de trabalho do disco, feita a partir de "Eu Sei (na Mira)", canção composta e gravada por Marisa Monte em seu segundo álbum. A faceta romântica de Negra Li aparece com força em canções como "Amar em Vão", "Tudo Era Lindo" (regravação de Carlos Dafé, um dos grandes nomes da soul music brasileira), "Por Você" e as versões "Eu Não Te Quero Pouco", "Teu Sorriso" e "Tempo pra Você", escolhidas a partir do catálogo da gravadora e trazidas ao português por Helião.

Destaque ainda para a regravação de "Meus Telefonemas", parceria de Caetano Veloso com a banda AfroReggae, em que Negra Li divide os vocais com o compositor baiano, e a faixa-título, "Negra Livre", escrita por Nando Reis. "Ele é um filho da mãe, acertou em cheio. Me fez lembrar literalmente da época em que eu andava de Brasilândia até Pirituba para ensaiar com o RZO", revela, comentando os versos "Sou negra livre/Cheguei aqui a pé". GGG

Juliana Girardi

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