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O diretor americano Spike Lee vai render homenagem aos soldados americanos negros que combateram na 2ª Guerra Mundial em um filme a ser rodado na Itália.

Lee disse ao jornal italiano La Repubblica, em entrevista publicada nesta quarta-feira (6), que o filme, baseado no romance "Miracle at St. Anna", de James McBride, pretende ressaltar o papel dos soldados afro-americanos na guerra.

Para o diretor, esse papel foi em grande medida esquecido em filmes americanos anteriores.

"Os EUA começaram a lembrar o sacrifício de soldados negros em filmes sobre a Guerra do Vietnã, mas antes disso, nos filmes sobre a 2ª Guerra Mundial, os soldados negros são quase invisíveis", disse o cineasta.

"Encontrei recentemente um veterano negro que lutou em Iwo Jima e ele me disse que ficou magoado pelo fato de não ter encontrado um único afro-americano nos dois filmes de Clint Eastwood."

"A Conquista da Honra" e "Cartas de Iwo Jima", os dois filmes do diretor americano Clint Eastwood sobre a sangrenta batalha de Iwo Jima, de 1945, narrada desde a perspectiva dos combatentes americanos e japoneses, foram lançados no ano passado.

Baseado numa história verídica, o livro de McBride é a história de um grupo de soldados da 92ª Divisão, conhecida como Divisão Búfalo e formada inteiramente por negros, que combateram a ocupação nazista na Toscana, e da amizade surgida entre um deles e um órfão italiano de 6 anos de idade.

Spike Lee disse que a contribuição dada pelos negros ao esforço de guerra americano naquela época foi ainda mais paradoxal, dado que, em seu país, eles ainda sofriam forte segregação racial.

"Apesar do fato de terem sido escravos por mais de 300 anos e de que, na época, ainda eram sujeitados a formas terríveis de discriminação, os negros lutaram como heróis."

"Eles se comportaram como patriotas, enquanto seus irmãos eram linchados ou, na melhor das hipóteses, vistos como cidadãos de segunda categoria", disse Lee.

Questões raciais são um dos temas favoritos de Spike Lee, diretor de "Malcolm X", "Faça a Coisa Certa" e de um aclamado documentário de 2006 sobre a devastação provocada pelo furacão Katrina em Nova Orleans.

Na entrevista ao La Repubblica, o diretor disse que a 2ª Guerra Mundial foi a última "guerra justa" travada por tropas americanas e criticou as guerras da Coréia, do Vietnã e do Iraque.

Mas Lee disse que seu novo filme não será um trabalho de propaganda política, celebrando apenas os soldados americanos que libertaram a Europa do jugo nazista.

"Muitos soldados alemães não eram rostos anônimos do mal, destituídos de humanidade, mas simplesmente homens que estavam lutando do lado errado. Também eles estavam exaustos e esfomeados e apenas queriam voltar para casa."

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