O maior show da história . Do fim dos anos 60 para cá, a era dos espetáculos de massa, jamais se viu coisa igual. Do desbravamento dos Beatles, que em 1965 inauguraram os concertos em estádios, ao desembarque dos Rolling Stones nas areias de Copacabana, se passaram quatro décadas.

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Durante este período, Mick Jagger e companhia driblaram o tempo e se tornaram a maior banda do planeta. Mas, nem por isso, era deles o maior concerto. Até este sábado, quando a banda desfilou para 1,2 milhão de pessoas sucessos dos 60 e 70 durante exatas duas horas de um show irretocável , que se tornará, em breve, o DVD.

Para muitos, o filme marcará o fim da carreira do quarteto britânico. Abaixo, confira os detalhes desta festa, que terminou sem registros graves de violência , contrariando - como bem ensinaram os Rolling Stones - todas as previsões.

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Nos "braços" do povo

Foi difícil esquentar os privilegiados que viram o show dos Rolling Stones bem de pertinho. Estranha mas previsivelmente, a platéia de VIPs se conteve e demorou a ceder aos incontáveis encantos de Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts, Ron Wood e seus comparsas. Enquanto desfilavam seu colar de clássicos do rock, os Stones se remeteram sempre ao infinito, um lugar no horizonte onde todo mundo é igual - embora ouça e reaja ao som gerado pela máquina stoniana com bastante atraso, numa metáfora perfeita do que é a sociedade brasileira, com sua pequena quantidade de privilegiados e uma imensa massa à qual a informação chega incompleta e com injusto retardo.

Em "You got me rocking", Mick fez sua primeira tentativa de aquecer a turma da frente, correndo pela passarela que o levaria mais perto da platéia livre. Com sucesso moderado nas investidas, acabava se mostrando mais preocupado em agradar a multidão, erguendo os braços e o microfone e apontando para o "fundo do salão".

Miss you

Sugestivamente, em "Miss you", a banda se reuniu na pequena parte móvel do palco principal e, deslizando por uma ponte, fez parecer que a falta sentida na letra da canção era a do povo. Os Stones são filhos do proletariado inglês, como boa parte do rock britânico que fez diferença. E foi entre o povo brasileiro, em meio à platéia aberta, de costas para a elite "very important", que Mick encontrou a resposta que buscava até então: calor e vibração sem medida da inconseqüência.

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E soltou incontrolavelmente a franga, o que se queria dele.

O rock não pode prescindir deste contato íntimo, dessa bolinação irresistível que coloca todo mundo no mesmo patamar. Como disse Keith Richards a certa altura do concerto, "é bom estar em qualquer lugar". Mas, como o rock é também um gênero cheio de contradições e até mesmo bizarrices, a banda voltou a seu lugar no presente - afinal, trata-se de um punhado de ingleses célebres, ricos e, sim, incontestavelmente talentosos - e retrocedeu, pela mesma ponte, à frente da imensa área negra dos VIPs. E tocou "Simpathy for the devil". Fez o maior sentido.

'Simpathy for the devil', pseudo-samba no retorno aos VIPs

Jagger, de cartolinha e fraque, regeu a platéia, extraiu com poderosas poções de animação mais um pouco do morno sangue VIP. E cuspiu de volta - como tantas vezes durante a carreira - a vibração sedutora e sombria que cerca este hino, um pseudo-samba, composto depois de uma das incursões dele e de Richards pela densa cultura popular brasileira.

Na seqüência, "Start me up" incendiou definitivamente qualquer alma que não fosse sebosa. E, logo depois, no bis, veio "You can't always get what you want", cujo refrão diz, em resumo, que se você não pode ter tudo que quer, se tentar, pode ter tudo o que precisa. Ai, ai, ai.

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Para fechar, Mick voltou com uma camisetinha com a bandeira do Brasil, uma legítima representante da moda do Saara, área de comércio popular no Rio de Janeiro. Quem sai aos seus não degenera, já dizia a avó da gente.

Depois do evento, a organização de uma das áreas VIPs (eram duas, uma à esquerda e outra à direita, tomando toda a frente do palco) soltou um comunicado sobre os presentes:

"Na área vip Claro Motorola, os quatro mil convidados, selecionados pela promoter Alicinha Cavalcanti, curtiram o show com muito entusiasmo. Entre os famosos que circularam por lá estavam Rodrigo Santoro e a namorada Ellen Jabour, Mariana Ximenez, Fernanda Lima, Thiago Lacerda e Vanessa Loes, Vanessa Camargo, Júnior, Priscila Fantin, Dado Dolabela, Vera Fisher, Rogério Flausino, Luis Fernando Guimarães, Malu Mader e Tony Belotto, Serginho Groisman, Debora Bloch e Olivier Anquier, Bruno Gagliasso, Murilo Benício, Cauã Raymond, Camila Pitanga, Preta Gil, Supla, Alessandra Negrini e Otto, Felipe Dylon, Beth Lago, Beth Gofman, Christiane Torloni, Vitor Fasano, Tuca Andrada, Malvino Salvador e Ana Luiza Castro, Aline Moraes e Giovana Antonelli. O evento reuniu fãs de todas as tribos e idades, que cantaram juntos todos os hits da banda e dançaram sem parar. Malu Mader, Flávia Alessandra e Suzana Vieira, esta de pé quebrado, foram as mais animadas e deram um show na pista."

Hostilizados

Muitos foram hostilizados, numa espécie de corredor polonês que aguardava, na saída, os célebres - não os da banda que se apresentou. Os VIPs não têm culpa. Não se trata de culpar ninguém, afinal é difícil encontrar um ser humano que renuncie a privilégios - inclusive, há os que gozam destes mesmos privilégios simplesmente para questioná-los depois, por escrito. Mas, ainda assim, em espetáculos como esse, há de se encontrar soluções menos ofensivas ao artista e seu público, que não usa abadás nem é escoltado por seguranças particulares para atravessar a rua e chegar ao show.

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