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Torre Eiffel e Arco do Triunfo fazem parte de uma Paris que não existe para os imigrantes ilegais que nela vivem. Eles ficam nos subterrâneos, ambiente em que se desenrola a história de A Síndrome de Ulisses, de Santiago Gamboa (Tradução de Luis Reyes Gil. Editora Planeta, 376 págs., R$ 39,90).

Colombiano radicado na capital francesa há mais de dez anos, Gamboa respondeu as perguntas do Caderno G por e-mail. Na sua opinião, Paris não tem nada a ver com luzes, artes e coisas belas. "Não, para mim será sempre a cidade da escuridão, da dor, da solidão e do medo. O lugar onde as embarcações dos Ulisses modernos, os imigrantes ilegais, se espatifam, levando consigo os sonhos de seus comandantes", diz.

O escritor se refere ao personagem do poema grego "Odisséia", atribuído a Homero, sobre as conseqüências da jornada de uma década que o protagonista empreende de volta para Ítaca, sua terra natal. Ulisses é nome latim de Odisseu.

Definida primeiro pelo psiquiatra Joseba Achotegui, da Universidade de Barcelona, a Síndrome de Ulisses se caracteriza por sensações de fracasso, medo e solidão em conflito com um senso de sobrevivência. Descrição que se aplica a várias figuras que convivem com o protagonista do livro – um jovem aspirante a escritor que estuda na Sorbonne e trabalha como lavador de pratos em um restaurante de cozinha oriental. Assim como seu personagem, Gamboa, quando se mudou para Paris, também almejava a carreira de escritor, mas rebate com veemência qualquer possibilidade de a história ser lida como uma autobiografia romanceada ou afins.

"O fato de ele querer ser um escritor é secundário na história. O mais importante é o que está acontecendo na vida dele", afirma. Vários personagens se intercalam na função de narradores. De certa forma, essa sucessão de vozes reflete o que pode ser descrito como o submundo parisiense, repleto de africanos, asiáticos, latinos e (inclusive) europeus.

Gamboa é contra a política de imigração que leva à construção de muros para impedir que as pessoas entrem nos países ricos. "Isso nunca deu certo." As barreiras são atravessadas desde sempre. "A vida é sempre mais forte que as pedras dos muros. A política correta, para mim, é ajudar os países de origem dessas centenas de milhares de imigrantes desesperados." Talvez o imigrante não desejasse abandonar sua terra natal se tivesse oportunidade de ter uma boa vida nela.

Nascido em 1965 e formado pela Universidade Javeriana de Bogotá, Gamboa viveu um período em Madri antes de viajar para a França. Tem certeza de que ser colombiano influencia sua escrita, mas não sabe como. "Não consigo me imaginar diferente do que eu sou." A Síndrome de Ulisses é o seu 5.º romance e o primeiro a sair no Brasil.

Sempre com um pé no jornalismo, uma das experiências que o definiram foi a cobertura da Guerra da Bósnia. Testemunha das atrocidades em Sarajevo, experimentou o impacto de perceber que vivia em uma sociedade "frívola", preocupada com "coisas estúpidas". Considera que jornalismo e literatura fazem uma combinação "excelente" e enfileira nomes que explicam a afirmação: Ernest Hemingway, John dos Passos, Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. "Os problemas de composição enfrentados por um escritor de ficção são semelhantes aos de um jornalista: ser direto, persuasivo e crível", explica.

Paris já foi a Mecca da literatura. Na primeira metade do século passado, lá era o lugar para se estar se você quisesse ser escritor. Hoje, é possível que não exista uma cidade no mundo capaz de substituir o silêncio diante da mesa do computador. Para Gamboa, esse é o verdadeiro centro do mundo literário.

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