"Abra suas asas, / solte suas feras...". A canção entoada pelas Frenéticas era a senha para acompanhar mais um episódio do drama de Júlia Matos, ex-presidiária vivida por Sônia Braga que lutava para conquistar o carinho da filha, Marisa, interpretada por uma jovenzinha Glória Pires. Criada pela irmã de Júlia, Yolanda Pratini, encarnada por Joana Fomm, a menina mimada desprezava a mãe. Enquanto isso, a moda exibida na televisão ganhava as ruas, num fenômeno pouco visto antes. Escrita por Gilberto Braga, Dancin Days foi exibida de julho de 1978 a janeiro de 1979, em cima da onda da discoteca. Agora, chega às lojas em formato de DVD (Globo Marcas, R$ 165). Editados, os 174 capítulos vêm em 12 discos, somando cerca de 38 horas de cenas. E não é só. Mais de três décadas após o sucesso no Brasil e no mundo, a novela está prestes a ganhar um remake em Portugal, numa coprodução entre a SIC e a TV Globo.
"O lançamento de antigos produtos do audiovisual, seja cinema ou televisão, é um ganho para a nova geração, que pode ficar informada sobre tudo que foi feito", comemora Daniel Filho, que assinou a direção-geral da novela.
A trama, relativamente simples, apresentava muito mais do que parecia oferecer. Por trás das questões de Júlia, que ainda penou com o alcoolismo antes de sua grande virada, outros aspectos sociais eram mostrados. Para Claudino Meyer, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro Quem Matou O Romance Policial na Telenovela, o folhetim marca um período de transição na teledramaturgia brasileira.
"Dancin Days é pós-moderna, tira a novela do nível das lágrimas, do melodrama, e a leva para a base da realidade, traçando um retrato do que estava acontecendo no país. A história mostrava situações urbanas de uma classe média que o Brasil desconhecia na época, além de trazer para a tevê problemas sociais. Era como se Gilberto Braga estivesse dizendo: "O mercado mudou. Estou trazendo o real e essa classe que você desconhece."
O clima de discoteca presente do título à abertura, passando pela trilha sonora e por um de seus cenários, a boate Frenetic Dancin Days, inspirada na casa noturna inaugurada pelo produtor Nelson Motta naqueles tempos permeava completamente a trama. Como se tornou corriqueiro dizer hoje em dia, a novela lançou uma tendência, em um Brasil que respirava a ditadura.
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