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Cláudio Edinger, carioca, autor de 11 livros fotográficos e profissional do meio há mais de 30 anos, interessou-se pela fotografia digital dos telefones. Queria explorar em um ensaio pessoal os ruídos, a baixa resolução e as cores sem fidelidade, características das pe-quenas câmeras. Viu seu projeto frustrado pela rápida evolução do meio. Os aparelhos ganharam resolução e suporte à luz baixa tão rapidamente que "estragaram" o conceito estético.

Sinal dos tempos. "Muita gente sabe escrever. Pode até redigir uma carta bonita. Mas não é por isso que será um poeta ou um escritor". O comentário do fotógrafo paranaense João Urban cria uma analogia para falar das questões trazidas pela popularização da fotografia. Indica que a disseminação da tecnologia não anula o profissional, nem o artista, embora alguns tenham sentido mais o impacto ao ver a tradicional química substituída pelo processamento binário de um computador.

É o caso de Vilma Slomp, que admite ter tirado do conflito digital versus analógico parte da inspiração para "Cisão", de 1999, fotografia de uma textura de pele negra que leva um agudo corte no meio. A imagem pode ser vista na galeria que Slomp mantém com seu marido, Orlando Azevedo. O espaço, inaugurado no início do mês, chama-se Galeria Photografica e propõe-se a exibir e discutir a fotografia (leia ao lado).

Para Azevedo, "fotografar é, no fundo, tirar uma foto de você mesmo". "Você fotografa aquilo em que você se reconhece", comenta o profissional, ex-integrante da banda curitibana de rock A Chave. O ato fotográfico não seria apenas um movimento da realidade exterior capturado instantaneamente, mas também uma revelação do fotógrafo sobre si e o seu olhar de mundo. Assim, na vontade de registrar o patrimônio histórico e humano do Paraná, Azevedo apresentou, há pouco mais de um mês, no Museu Oscar Niemeyer, a mostra Expedição ao Coração do Paraná, fruto de uma extensa viagem realizada ano passado por todos os cantos do estado.

João Urban também revela que há uma entrega mais evidente nos seus trabalhos recentes. "Nos ensaios sobre os bóias-frias, eu ainda via a fotografia como algo mais objetivo, uma fotografia-verdade, influenciado por alguns movimentos americanos que usavam o meio para fazer denúncia", comenta. Sobre o celebrado e extenso trabalho sobre a cultura polonesa no Brasil, Urban revela ter deixado de lado a objetividade para desenvolver mais a afetividade. "O fotógrafo sempre revela algos sobre si, não há como escapar. Até no tema que se escolhe", afirma. Uma retrospectiva dedicada a Urban está aberta na Torre da Fotografia do Museu Oscar Niemeyer.

A fotógrafa Anuschka Lemos também fala de perspectivas pessoais. Ela integra, ao lado de mais sete colegas, o Núcleo de Estudos da Fotografia. O grupo desenvolveu, nos últimos dois anos, o projeto Cidades Visíveis procurando "retratar os espaços urbanos partindo de uma perspectiva pessoal". A iniciativa já mostrou cantos de Curitiba em cidades do Chile e do México. Resta saber como os curitibanos irão reconhecer sua própria cidade quando as imagens aportarem por aqui (ainda sem data prevista).

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