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O grupo de jazz gaúcho Delicatessen encontra sua alma na bela voz e na presença da vocalista Ana Krüger | Divulgação
O grupo de jazz gaúcho Delicatessen encontra sua alma na bela voz e na presença da vocalista Ana Krüger| Foto: Divulgação

Standards e jazz na levada da bossa. A combinação quase deu certo, há 20 anos, com o Nouvelle Cuisine, que se perdeu ao optar pelo gigantismo. Agora, outro grupo com nome de inspiração gourmet venceu, usando a mesma fórmula. Com um som delicado e palatável, o Delicatessen surgiu no início de 2006 e foi aos poucos abrindo espaço no imprevisível cenário musical brasileiro – com um olho voltado para o mercado exterior. Em menos de três anos, foram dois CDs de altíssima qualidade (Jazz + Bossa e My Baby Just Cares for Me), apresentações nas principais cidades brasileiras, em Assunção (Paraguai) e Buenos Aires, e uma vendagem excepcional de 17 mil cópias do primeiro CD, 4 mil das quais no Japão.

Os discos do Delicatessen foram lançados também na Tailândia, com distribuição na Malásia, em Taiwan e Hong Kong. Vencedor da categoria de melhor disco em língua estrangeira no Prêmio da Música Brasileira, em setembro, o grupo parte para sua primeira turnê internacional, com shows na ilha grega de Creta Bangcoc, na Tailândia, e em outros países da região onde o disco foi lançado.

Um crítico carioca opinou que o Delicatessen seria um bebê de proveta feito em laboratório pelo produtor Beto Callage e por seu diretor musical Carlos Badia.

Na verdade, o grupo partiu do formato clássico de cantora e trio rítmico, com violão no lugar do piano, o que assinala o diferencial brasileiro do Delicatessen. Formado por músicos gaúchos, tem o seu coração na voz de Ana Krüger, que encontra em Carlos Badia (violão), Edu Martins, depois Nico Bueno (baixo) e Mano Gomes (bateria) a cama ideal para sua interpretação cool de canções escolhidas a dedo.

O repertório do Delicatessen funciona como se fosse parte essencial do grupo. Oldies como "My Melancholy Baby" (1911) e "My Baby Just Cares For Me" (1928), alternam-se com clássicos de George Gershwin ("How Long Has this Been Going On", "Do It Again"), Irving Berlin ("Be Careful, It’s My Heart"), Ray Noble ("The Very Thought of You", "The Touch of Your Lips"), com hits das big bands de Duke Ellington ("In a Mellow Tone", "In a Sentimental Mood") e Benny Goodman ("Don’t Be that Way") e canções favoritas de Billie Holiday, Frank Sinatra e Chet Baker, como "Angel Eyes", "I Fall in Love Too Easily", "You’ve Changed" e "He’s Funny that Way".

O esquema não é tão rígido assim: nas apresentações ao vivo, o Delicatessen costuma recorrer ao reforço de um pianista; nas gravações, usa convidados especiais, como Chico Ferreti (piano) e Luiz Fernando Rocha (fluegelhorn e trompete). Claro, discretamente também, existe o lado autoral do grupo. No primeiro disco, foram duas colaborações de Carlos Badia e Beto Callage ("Todos os Dias" e "Setembro"). No segundo, outra dose dupla da parceria Badia-Callage ("Amores Musicais" e "Delicatessen", uma espécie de logotipo musical do grupo. E os privilegiados japoneses foram brindados com uma faixa bônus da dupla Callage e Badia, "Única Canção". Permanece, por enquanto, a única canção do Delicatessen desconhecida do público brasileiro.

Algumas conclusões depois de dezenas de audições dos dois CDs e de um punhado de apresentações ao vivo do Delicatessen no Rio, no lendário Mistura Fina à beira da Lagoa, e no Bar do Tom: o som é agradável e envolvente, mas está longe de ser música-de-fundo, muzak ou coisa parecida. É inteligente e sutil demais para isso. Quem tem ouvidos, vai degustar a música incidental de Tom Jobim em "Don’t Be That Way" ("Águas de Março") e em Amores musicais (Fotografia).

Uma palavra sobre a musa do grupo, Ana Kruger, eternamente jovem nos seus 35 anos, enigma com cabelos encaracolados de Medusa, esfinge glacial ar­­­dendo em fogo mortiço. Seu diálogo com a guitarra de Carlos Badia lembra os melhores mo­­­mentos da love story musical de Billie Holiday entrelaçada com o saxofone tenor de Lester Young. Bonita e atraente, Ana já frequentou as páginas da revista Caras, que destacou sua "beleza e boa forma: 63 quilos em 1mw69." Com seu sotaque simpático e sua malemolência vocal, a crooner de roupas discretas exerce seu carisma banhada pelos refletores no centro do palco. Já recebeu incontáveis propostas, decentes e indecentes. "Os homens me assediam, mas os trato com respeito e mantenho a distância." Filha, sobrinha e neta de cantoras, Ana Krüger, por enquanto, escolheu como opção de vida sua carreira.

No rápido mas intenso contato pessoal que tive com a turma do Delicatessen — nas apresentações do Rio em 2007 e 2009 — pude sentir que se trata de uma grande família, que vive e trabalha em harmonia, e aí se incluem também uma sucessão de "Bs": Beto e Bebel Callage, o Branco (Carlos, da Branco Produções) e o Badia (Carlos, guitarrista, produtor e arranjador).

A viagem do Delicatessen a Creta transcorre numa atmosfera mitológica.Foi nesta ilha grega que Teseu, com a espada mágica herdada do pai, Egeu, matou o terrível Minotauro no seu labirinto e encontrou o caminho de volta guiando-se pelo novelo de lã que lhe deu Ariadne, filha de Minos, o rei de Creta. Com toda a certeza, seguindo o Fio de Ariadne (Ana Krüger), o Delicatessen navegará por mares amigos rumo à sua consagração internacional..

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