Os atores do Teatro da Vertigem ficam do lado de fora do Sesc Avenida Paulista, suspensos por andaimes, durante Kastelo, espetáculo que permanece em cartaz em São Paulo até 28 de março. Eles surgem e desaparecem atrás das janelas fechadas do terceiro andar, como figuras do mundo corporativo contemporâneo. Através do vidro, enxergam o interior do prédio, onde os espectadores, ao mesmo tempo observadores e observados, se acomodam nas cadeiras giratórias que atravancam o espaço desordenado de um escritório.
O ponto focal se altera constantemente. É preciso mover o pescoço de um lado ao outro para avistar a ação através do vidro que recobre três paredes. Fica claro que quem está fora enxerga melhor dentro do que o contrário e, portanto, tem algo a dizer sobre nós.
À direita, a secretária desata a falar de recursos estéticos e, sem ser notada por parte do público, se enrola em filme de PVC: plástico, superficial, sufocante. À esquerda, uma inexpressiva funcionária de arquivo cataloga os demais empregados, absolutamente atida à estreiteza de sua função. A parede frontal, mais larga, revela outras personagens igualmente oprimidas pela rotina de trabalho que toma conta de suas vidas, afundadas em burocracia e obstruídas por estruturas hierárquicas não-comunicantes. O tom artificial ou despersonalizado de suas falas é sintomático.
A evidência do absurdo dessas relações labitínticas e asfixiantes para o indivíduo é o que o dramaturgo Evaldo Mocarzel aproveita da obra original de Franz Kafka na qual a montagem foi livremente inspirada: O Castelo, romance incompleto e postumamente publicado em 1926. Contudo, a potência da montagem reside na maneira como o público a experimenta o que não é novidade na trajetória do grupo paulista, que já transportou sua plateia ao rio Tietê em BR3 e fez a Trilogia Bíblica em hospitais e igrejas.
Nesse projeto específico, a direção passou de Antônio Araújo para Eliana Monteiro, integrante do Vertigem há mais de uma década, cabendo ao diretor a assistência. Mas o impacto da ambientação foi preservado nesse deslocamento de comando. Ao libertar o espectador dos espaços teatrais tradicionais e aprisioná-lo em um cenário que o incorpora, fazendo com que se perceba também um trabalhador, afetado pelas mesmas condições, o grupo reencaixa o teatro na realidade mais próxima de quem o presencia. GGGG
Serviço
Kastelo. Com o Teatro da Vertigem. Sesc Avenida Paulista (Av. Paulista, nº119 São Paulo), (11) 3179-3700. 5ª a dom. às 21h. R$20 e R$ 10 (meia). Classificação indicativa: 14 anos. Até 28 de março.
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