A animação da Sony Pictures, que estréia este fim de semana no Brasil, nada tem a ver com seus antecessores ("A marcha dos pingüins" ou "Happy feet"), a não ser recorrer ao sucesso das aves marinhas. O longa é, sim, uma divertida e original história sofre o mundo do surfe, que vai agradar todas as idades.
Um dos grandes baratos de "Tá dando onda" ("Surf's up", no original) é o conceito de documentário e reality show. Todos os passos do aspirante a surfista Cadú é seguido por uma equipe de TV. A ilusão é a de que a câmera está lá por acaso, registrando cada momento.
Para chegar a este efeito, a equipe criou um novo sistema de câmera live-action - um setup que eles apelidaram de "HandeeCam" em homenagem à popular filmadora da Sony - para "filmar" uma cena animada. Um operador de câmera filmava com uma câmera de verdade, enquanto um sistema de captura gravava seus movimentos, que eram então direcionados a uma câmera virtual com a verdadeira tomada. Foi usada uma câmera muito comum entre documentaristas de 20 anos atrás e que está fora de linha desde 1989. A produção recorreu ao eBay para garantir o equipamento.
Para ajudar no visual de reality-show, os animadores recorreram a "imagens de arquivo". Como? Eles manipularam a animação para dar uma aparência do preto-e-branco dos anos 20, depois as primeiras cores nas décadas de 50 e 60, os Super-8 da década de 1970, os 16mm dos anos 80, até os vários tipos de imagens mais atuais. O resultado é incrível.
No lugar da inóspita Antártica, o cenário é uma bela praia tropical. Cadú sai de sua cidade natal, Frio de Janeiro, e segue rumo à Ilha de Pingú (uma espécie de Havaí dos pingüins) para participar de seu primeiro campeonato de surfe profissional. Lá, faz vários amigos, como o surfista do Pantanal João Frango, o olheiro Mikey Abromowitz e a divertida salva-vidas Lani Aliikai. Uma galeria hilária de personagens, completada pelo veterano surfista Big Z.
Alguns dos momentos mais engraçados ficam por conta do trio de pingüins bebês, Arnaldo, Kátia e Borrão. Volta e meia eles entram em cena dando palpite sobre o campeonato de surfe e as trapalhadas de Cadú.
Arnaldo, é um malandro que finge se afogar o tempo todo para ser salvo pela bela Lani. Sendo que pingüins, como sabemos, já nascem praticamente nadando desde o momento que saem do ovo. Kátia é uma filhote precoce que tem opinião formada sobre tudo, e fica justificando porque o mundo do surfe não pode ficar restrito aos homens. E o que é Borrão? O menorzinho de todos fica quietinho, só prestando atenção, até que abre a boca com tiradas sensacionais.
A personalidade de cada filhote ganha autenticidade com as dublagens. No original - por favor, vale a pena assistir legendado para ouvir profissionais e não atores famosinhos de TV -, as crianças pingüins são dubladas por filhos de gente da equipe. Sensacional.
Os amantes de surfe devem saber que os campeões Rob Machado e Kelly Slater, junto com o famoso locutor esportivo Sal Masekela, aparecem em "Tá dando onda" como eles mesmos. Só que na forma de pingüins. Os desenhistas captaram suas personalidades e maneirismos, e os próprios surfistas dublaram suas vozes. Tudo contribui para o estilo de animação, chamado pela produção de "realidade caricatural".
O último toque de realismo foi dado pelos traços de Slater. O campeão visitou o estúdio para comentar as versões apresentadas pelos animadores para seu habitat natural. Com uma caneta pilot na mão, ele indicou suas sugestões na tela, e os artistas incorporaram as dicas ao produto final.
O longa foi idealizado e dirigido por Ash Brannon ("Toy story 2") e Chris Buck ("Tarzan"). Junto com a equipe, eles analisaram vídeos, estudaram referências científicas e até fizeram aulas de surfe para deixar as imagens de "Tá dando onda" o mais realista possível. Eles também filmaram as manobras de Slater e Machado, para dar autenticidade aos pingüins surfistas.
Como em qualquer bom filme de surfe, na trilha sonora não poderiam faltar bandas que representam o espírito de rebeldia. "Tá dando onda" resgata, por exemplo, a cantora de r&b Lauryn Hill, joga em uma cena super bacana a canção "Holiday", do Green Day, tem várias músicas do Incubus e uma original do grupo Sugar Ray. Nas imagens de época o ritmo tem o embalo a la Elvis Presley.
Ou seja, técnica, música e roteiro original formam um casamento perfeito nesta animação, que você até esquece ser mais uma de pingüins. Corra já para o cinema.
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