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Filme em preto e branco do diretor português Miguel Gomes está na mostra competitiva pelo Urso do Festival de Berlim | Divulgação
Filme em preto e branco do diretor português Miguel Gomes está na mostra competitiva pelo Urso do Festival de Berlim| Foto: Divulgação

Longa sobre transexual cearense é destaque

Outro destaque da segunda-feira no Festival de Berlim foi o longa-metragem brasileiro Olhe pra Mim de Novo, de Kiko Goifman e Cláudia Priscilla, que teve sua estreia na mostra Panorama Documenta. O filme – já lançado em festivais no Brasil, inclusive Gramado e Tiradentes – é sobre Sylvio Luccio, um transexual formado em Letras e funcionário público no Ceará.

Viajando pelo sertão nordestino, Luccio apresenta, aos poucos, a sua personalidade, tanto em depoimentos quanto no contato com outras pessoas que, como ele, sofrem com o preconceito.

Goifman é diretor dos celebrados 33 e Filmefobia. Claudia, sua esposa, foi premiada no Festival de Paulínia em 2010, com Leite e Ferro, em cartaz hoje na Cinemateca, sobre presidiárias que amamentam seus filhos na cadeia.

"É um prazer imenso voltar a Berlinale. Tivemos uma experiência única aqui com dois filmes em 2006. Cláudia com Sexo e Claustro [Panorama de Curtas] e eu com Atos dos Homens [Fórum]. Nada melhor do que voltar agora com um filme que dirigimos juntos. Numa palavra: maravilhoso!", afirmou Kiko à Gazeta do Povo. Embora admita que o tema do seu filme é delicado, ele espera uma boa receptividade em Berlim, nas próximas sessões da produção programadas pelo evento.

"Berlim é uma cidade que respeita o outro, é um lugar onde a diversidade é vista com bons olhos. A ideia é aproveitar para conversar, debater e dialogar. Isso é muito legal para nós e, no caso desse filme, é fundamental", ressaltou.

  • Olhe pra Mim de Novo já foi exibido em Gramado e Tiradentes (matéria abaixo)

Tabu, de Miguel Gomes, representante de Portugal na mostra competitiva do Festival de Berlim foi mostrado ontem, numa prévia para a imprensa, que an­tecedeu à sessão de gala à noite no Palácio dos Festivais. A seleção do longa lusitano acaba com uma ausência de 12 anos do país ibérico na mostra competitiva. O último filme de Portugal que havia sido apontado para a competição na Berlinale foi Glória, de Manuela Viegas, em 1999.

Com um bom elenco – que inclui Teresa Madruga, Laura Soveral, Ana Moreira, Carloto Cotta, Isabel Cardoso, Manuel Mesquita e o brasileiro Ivo Müller – o longa é uma produção conjunta de Portugal, Alemanha, França e Brasil. A participação brasileira se dá através da Agência Nacional de Cinema (Ancine).

O enredo, com tons surreais e filmado em preto e branco, é sobre três mulheres que compartilham a solidão em comum e moram no mesmo andar de um prédio em Lisboa: Aurora, sua empregada Santa – uma cabo-verdiana de meia-idade – e Pilar, sua vizinha, uma economista aposentada, muito católica, que dedica todo o tempo e energia a ONGs e causas sociais.

Na noite do ano-novo, Aurora é hospitalizada de madrugada e, antes de morrer, pronuncia um nome que ninguém tinha ouvido antes: Gianluca Ventura. Pilar e Santa saem em busca desse homem e passam a conhecer uma história de amor e crime da vida de Aurora, passada na África.

Tabu é o terceiro longa-me­tragem de Gomes, de 39 anos, depois de A Cara Que Mereces (2004) e Aquele Querido Mês de Agosto (2008). Este último fez muito sucesso em Cannes, ganhou vários prêmios, inclusive o da crítica na Mostra Internacional de São Paulo há quatro anos, e projetou o diretor internacionalmente. Em entrevista à Gazeta do Povo, o cineasta falou sobre a motivação para realizar Tabu e a seleção em Berlim.

Houve uma inspiração pessoal para realizar o novo filme?

Uma pessoa da minha família tem vários pontos em comum com a personagem de Pilar: vive sozinha, é católica, adora ir ao cinema (foi ela quem me fez ver filmes quando eu era criança) e se dedica a atividades humanitárias. Ela me contou a história do seu relacionamento com uma vizinha senil que acusava a empregada africana de aprisioná-la no seu quarto e de outras maldades que nunca foram provadas.

De onde veio a ideia de deixar o filme mudo na sua segunda metade?

Eu não acho que a segunda parte é tecnicamente muda. O diálogo é suprimido, mas há uma voz narrativa que reconta a sequência dos eventos que a­­­con­­­­tecem nesse segmento do filme. É como se as palavras trocadas tivessem se perdido no tempo. Eu não queria fazer um pastiche moderno de um filme mudo, então busquei outro caminho que protegesse a essência e a beleza.

Por que a procura por um cinema que não existe mais?

Tabu é um filme sobre a passagem do tempo, sobre coisas que desapareceram e só podem existir como memória. Há uma elipse no filme em que se volta 50 anos. Nós vamos da idade avançada para a jovem, de uma sociedade pós-colonial ao tempo do colonialismo. É um filme sobre coisas que estão extintas: uma pessoa que morre, uma sociedade acabada, um tempo que so­­mente pode existir na memória de quem o viveu. E queríamos conectar isso com um cinema também extinto.

Qual é a sua expectativa em relação à possibilidade de ganhar o Urso de Berlim?

Estou contente pela seleção. Quanto ao resto, não tenho muito para dizer. Berlim é o festival que tem tido menos apetite por filmes portugueses, que têm mais presença em Cannes e Veneza. Num certo sentido, é como participar de um jogo de futebol fora de casa. Mas não virarei a cara a um Urso se ele me aparecer à frente.

Que diretores e filmes o inspiraram?

Muitos diretores e filmes me inspiram, mas neste caso específico, o que mais me inspirou foram as histórias contadas por familiares. Tenho também uma forte conexão com o cinema clássico americano.

Tem algum novo projeto em mente?

Tenho vários, mas as notícias relativas à produção de cinema no meu país não são boas. Os concursos de apoio à produção para 2012 no ICA, o equivalente à Ancine no Brasil, estão neste momento suspensos por falta de verbas.

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