Antes de lançar seu terceiro disco, “Currents”, no último dia 17, o Tame Impala soltou quatro singles tão bons que quase prestaram um desserviço ao álbum — a expectativa, naturalmente alta, havia subido ainda mais. Diferentes entre si, mantinham um distanciamento em relação à psicodelia tão forte nas guitarras de “Innerspeaker” (2010) e “Lonerism” (2012). “Let it Happen”, o primeiro single divulgado (também a faixa inicial de “Currents”), é uma espécie de manifesto-épico de oito minutos.
Nos comentários populares do YouTube, onde a própria banda divulgou a música, pipocam celebrações às “viagens” proporcionadas pelo grupo australiano. “Acho que sou o único fã não drogado deles” é o terceiro comentário mais votado. Um exagero, obviamente, mas basta abrir qualquer vídeo do Tame Impala para nadar em divagações que comparam a experiência estética proporcionada pela banda com passeios intergaláticos que, como um aleph de Borges, borram o tempo e os sentidos.
Curiosamente, Tame Impala tem sido um catalisador musical do cósmico, essa busca por transcendência resgatada de períodos hippies, num retorno cíclico, como em tudo, das expressões artísticas. Um cósmico refletido tanto na retomada de pesquisas científicas sérias sobre enteógenos e psicoativos quanto na promulgação de meditação e yoga entre o cidadão comum (com tempo e dinheiro para meditação e yoga, contra-argumente você). Uma resposta – certamente não a primeira, mas a atual – para o caos e a correria. Let it happen.
Disco
Tame Impala. Modular Records. Rock psicodélico. Disponível em streaming.
“Currents” é, como os outros dois discos, amarradíssimo entre forma e conteúdo, agora pop como nunca; teclados explicitamente disco, anunciados em “Beverly Laurel”, joia escondida no lado B do álbum anterior. Se “Innerspeaker” e “Lonerism” tratavam, ainda que por estradas distintas, de solidão, “Currents” surge como convite reforçado à sinestesia: na fluidez – da vida, do tempo, do eu –, tremula sua bandeira principal. Correntes, oras; papo de hippie. Nesse zeitgeist de chapados e sintetizadores, porém, a verdade é que a banda de Kevin Parker se mantém com relevância singular no universo musical.
Michael Jackson
Boa parte das 13 músicas soa como uma dilatação. Trata-se do álbum mais lento do Tame Impala, unindo teclados a letras de rompimento como uma rádio brega em hora de almoço. O grande mérito de Parker é resgatar elementos potencialmente danosos a uma banda aclamada e, com seu talento de compositor e produtor, enfrentá-los corajosamente. Se “Currents” emula o melhor de Michael Jackson, isso dificilmente seria atingido sem os anos de relacionamento perfeccionista com o rock psicodélico.
Há refrões pegajosos, daqueles que te puxam pela mão para cantar junto mesmo quando não se está prestando atenção, como em “Eventually”, “The Moment”, “‘Cause I’m a Man”. Em “The Less I Know The Better”, “Disciples” e “New Person, Same Old Mistakes”, é custoso não acompanhar a melodia inteira, geralmente guiada por um baixo hipnótico.
As curtas “Nangs” e “Gossip” são experimentos para danificar o tecido do tempo, enquanto “Past Life”, “Yes I’m Changing” e “Love Paranoia” abraçam de forma transparente o pop grudento que tanto acrescenta à bagagem de Parker. Em todas as faixas, como em todos os discos, impressiona o cuidado com que a banda utiliza cada elemento sonoro de forma harmoniosa, convergindo com o todo. No universo de Kevin Parker, nada é sem razão de ser.
Assista ao clipe de “Cause I’m a Man”:
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