Em Bestiário, o escritor argentino Júlio Cortázar reúne oito contos que têm em comum uma de suas características mais marcantes: a erupção do fantástico no cotidiano. São contos enigmáticos, em que o autor joga com o leitor e cria uma sensação de estranhamento. Um desses contos, As Portas do Céu, diferencia-se pela sutileza com que Cortázar conta uma história que não é tão enigmática quanto parece ser. Foi justamente isso que fez com que o diretor Edson Bueno fixasse o conto em sua mente e, anos depois, resolvesse adaptá-lo para os palcos.
Depois do assombroso palácio de Hamlet, o Teatro Edson Bueno transforma-se no "cabaré mais vagabundo do planeta", de acordo com definição do personagem interpretado pelo próprio Edson Bueno na peça Tangos Portas do Céu, estréia deste sábado, às 20 horas.
Movida a tangos rasgados daqueles que ainda se dançam em cabarés obscuros de Buenos Aires , a peça conta uma história de amor e de amizade vivida por um triângulo amoroso. Alguma semelhança com Jules e Jim, de François Truffaut? Edson Bueno jura que o cineasta inspirou-se no conto de Cortázar quando resolveu adaptar o romance de Henri-Pierre Roché (embora saiba que não há evidências sobre isso), e confessa ter colocado um pouco do filme em sua peça.
O diretor interpreta Marcelo, um advogado que conhece um casal humilde, Celina e Mauro (interpretados por Pagu Leal e Luis Carlos Pazello). Ela é uma dona-de-casa simplória que, antes de se casar, era dançarina de tango de um cabaré ordinário, ocupação que equivalia à prostituição na década de 50, tempo em que é ambientada a trama. Marcelo não consegue imaginar que Celina tenha esquecido o passado e está convencido de que um dia ela resgatará a música e a dança abrindo "as portas do céu", como sugere o título do conto. Ele não sabe se está se apaixonando pela dona-de-casa ou pela mulher que idealiza em sua mente. Em meio a inúmeras reviravoltas, os dois homens tornam-se amigos, unidos pela paixão por Celina. Eles passam a caminhar juntos, em passos bêbados, em direção aos cabarés onde esperam encontrar a mulher mítica que idealizam em seus sonhos.
Bueno conta que procurou ser fiel às palavras de Cortázar e criar a mesma atmosfera de mistério do conto. Para isso, inclui até mesmo alguns diálogos em espanhol e reproduz a força do tango para dançar (e não para turista ver), com o apoio dos dançarinos Léo Taques, Rosângela Craveiro, Inês Drummond e Pieterson Duderstadt.
Serviço: Tangos Portas do Céu. Teatro Edson Bueno (Galeria Pinheiro Lima, Pça. Tiradentes, 106), (41) 3015-8705. Texto de Julio Cortázar. Adaptação e direção de Edson Bueno. Quinta a sábado, às 20 horas, e domingo, às 19 horas. Ingressos a R$ 14 e R$ 7 (estudantes, classe artística e promoções).
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