Carreira
Veja as principais participações de Maria Alice Vergueiro no teatro, no cinema e na televisão:
Teatro
2008 As Três Velhas, de Alejandro Jodorowsky, com sua direção e atuação
2003 Temporada de Gripe, de Felipe Hirsch
2002 Mãe Coragem e Seus Filhos, de Bertolt Brecht, com direção de Sérgio Ferrara
1998 O Avarento, de Molière, com direção de Cacá Rosset
1994 A Comédia dos Erros, de William Shakespeare, com direção de Cacá Rosset
1989 O Doente Imaginário, de Cacá Rosset
1988 A Velha Dama Indigna, de Bertolt Brecht, com direção de Cacá Rosset
1986 Eletra Com Creta, de Gerald Thomas
1983 O Belo Indiferente, de Jean Cocteau, com direção de Cacá Rosset
1981 O Percevejo, de Luís Antônio Martinez Corrêa
1978 A Ópera do Malandro, de Chico Buarque de Hollanda
1967 O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, com direção de José Celso Martinez Correa
Filmes
2009 Topografia de um Desnudo, de Teresa Aguiar
2006 Tapa na Pantera. O vídeo de Esmir Filho, Mariana Bastos e Rafael Gomes, é todo baseado em Maria Alice, como num depoimento, mas na verdade é uma obra ficcional. Ela fala sobre sua relação com a maconha. A repercussão após a veiculação no site YouTube tornou a atriz conhecida entre os artistas mais novos e o público em geral.
1992 Perfume de Gardênia, de Guilherme de Almeida Prado
Televisão
2009 Tudo o Que É Sólido Pode Derreter
2007 O Sistema
2000 Brava Gente
1987 Sassaricando (no papel de Lucrécia)
Londrina - Dama do teatro brasileiro experimental, a atriz Maria Alice Vergueiro chegou aos 76 anos cheia de paixões. Pelo contato fascinado com textos do dramaturgo e cineasta chileno Alejandro Jodorowsky, aprendeu a lidar melhor com o envelhecimento. De quebra, criou uma das peças mais fortes a estrear ano passado, As Três Velhas, que trata de duas irmãs empobrecidas e orgulhosas que vivem com uma criada. A Gazeta do Povo entrevistou a atriz durante sua passagem pelo Festival Internacional de Londrina. Maria Alice falou também sobre sua contribuição ao teatro experimental brasileiro nos últimos 50 anos.
A senhora tem 76 anos e ainda está nos palcos. Como lida com as dificuldades de saúde?
Estou desenvolvendo Parkinson, e ele tira o equilíbrio. Consigo andar, mas temo cair, como se tivesse labirintite. Então uso a cadeira de rodas, mas os meninos [atores e produção com quem trabalha] criaram condições para eu fazer uma das velhas na peça, a criada Garga. Depois, percebi que era absolutamente lógico. Eu sou atriz, por que não iria fazer uma das velhas? E com isso estou estudando muito a morte e a velhice.
Em que pontos da peça esses temas mais a influenciaram?
Tive muita dificuldade de entrar na personagem, que tem 100 anos. Eu me criticava muito... às vezes me dizia: "Mas eu não tenho 100 anos", ou ficava com vergonha de me aparentar tão frágil. Mas comecei a entender um pouco a possibilidade que a gente tem no teatro de "mostrar" a velha, sem "ser" a velha. Li o livro da Simone de Beauvoir, A Velhice, e é engraçado porque a gente pensa que entende a velhice porque é velho, mas na maior parte das vezes passa ao largo do assunto. Só fala dos outros, por exemplo: "Encontrei uma amiga, e ela está tão velha!". Você só não fica velho se morrer antes... Então, tem que lidar com isso, e pode ser por meio uma peça de teatro que sublima, transcende o tema.
Em que momento isso ocorre na peça?
Há um ritual de canibalismo, que na verdade é de generosidade. Garga, meu personagem, diz "O que sobrou de vida em mim? Um sopro inútil. Vocês podem me comer". No início, as pessoas riam muito, mas agora estou conseguindo fazer a cena de uma maneira que cria um silêncio na sala inteira. E no palco, cada vez nos desprendemos mais, atuando de forma lúdica.
De onde tirou a paixão por Jodorowsky?
Ele é uma figura mais conhecida do cinema cult, e foi muito comentado na contracultura dos anos 60. Eu estava no Teatro Oficina, e o Zé Celso [Martinez Corrêa] o conhecia. A contracultura abortou, mas ele continuou trabalhando com teatro, apesar de que pouca gente sabe que ele é dramaturgo.
Fui ouvir uma palestra dele, que é muito sedutor, mesmo com 82 anos. Consegui o livro com suas peças e pensei: o Luciano [Chirolli] tem tudo a ver com a Melissa [personagem que interpreta].
Por quê?
Porque eu conheço o talento dele. E quando um homem interpreta uma mulher, corre o risco de cair na chanchada, que é o que todo mundo faz, drag queens, cabarés, em que imitam a mulher, fazem jeitinhos e não era isso o que a peça pedia. Mesmo que colocasse uma mulher, é perigoso, tem que ser bom ator.
Como era a atuação necessária?
Jodorowsky pede um melodrama grotesco, que é patético. Sabe os personagens de Molière? Não é para rir o tempo todo, você tem um pouco de pena, porque ele é explorado. Faz sentir um pouco de nostalgia, você compreende a fragilidade do ser humano. Existe sempre atrás de um melodrama algo dramático, uma tristeza. Mais uma razão para serem atores que lidam bem com isso tanto que se costuma perguntar em testes de elenco: "você é melhor no cômico ou no trágico?" O Cacá [Rosset, diretor] sempre dizia que o mais difícil é fazer dar risada, porque para chorar tem a cebola, mas para rir não tem nenhum legume...
Por que a peça nunca havia sido montada?
Porque ele mesmo não divulgava, o livro com as peças é de 2007, e a peça é de 2003. Acho que ele não se valorizava muito como autor de teatro, ele é da época dos happenings, do teatro improvisado. Começamos a estudar a peça e vimos que ela é muito forte, porque traz também toda uma parte mítica.
O texto predomina na sua montagem...
Ah, totalmente. Ele é muito forte, e não explicativo, porque tem uma base toda de fábulas, que o próprio público edita. Se não no inicio, fica com aquilo na cabeça. Muita gente me telefona para dizer que gostou muito de tal pedaço, e quer que eu explique.
E você explica?
Não gosto muito, não explico nem para os atores, porque você acaba conduzindo a compreensão da pessoa jeito que quer. Uma peça como essa tem que ser descoberta. Vejo como uma forma de compreender os seus problemas. O Jodorowsky dá o exemplo de um rapaz que o procurou com crise de pânico e pediu ajuda. Ele o aconselhou a entrar numa livraria e simular o ataque que ele tanto temia, viver aquilo. Não tem muita diferença do psicodrama. E, quando viessem saber o que tinha acontecido, ele deveria pedir um copo de leite quente, comprar um livro pornográfico e lê-lo num café. E o rapaz fez isso e sarou. Na verdade, dialogou com o inconsciente, viveu racionalmente o que tinha vivido psicologicamente.
Que balanço faz da sua contribuição ao teatro experimental?
É um teatro artístico. A palavra experimento dá a impressão de que você está testando, de que aquilo ainda não é a verdade. Mas a diferença é que ele não tem uma urgência em estrear, ganhar dinheiro. É uma relação de trabalho onde todos participam e estão comprometidos, completamente diferente de trabalhar com um empresário, que te manda ao setor financeiro. Precisa ter isso também, mas me identifico mais com o exemplo de Brecht. Ele lia tudo para o grupo, mudava algumas coisas, é outra relação. Tem um aconchego maior, é feito entre amigos, e mesmo quando há discussões, elas são saudáveis, se você souber conduzi-las. Não é que não haja liderança, mas ele é mais empírico. Sempre me dei bem assim, e poucas vezes fui empregada, a não ser quando trabalhei para a Globo. É como chegar a uma festa na casa de alguém que não se conhece direito. As pessoas não te aceitam bem.
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